sábado, 24 de novembro de 2007

Um tema pouco habitual

Decerto não se lerá por aqui muito sobre futebol e muito menos sobre as suas personagens. Contudo não poderia ficar impune esta situação que me parece dever ser analisada.

Refiro-me à questão da selecção nacional de futebol. confesso que nunca tive uma especial simpatia pelo actual seleccionador nacional. Não penso que os resultados por ele obtidos sejam nada de extraordinário. Lembro mesmo que no Europeu anterior à entrada dele para o cargo de seleccionador, Portugal teve uma presença brilhante mas que terminou de um modo algo triste e injusto. Em suma, não me parece que tudo o que desde então se passou com a selecção seja fruto da sabedoria e da teimosia do brasileiro Scolari. Sim, a palavra "brasileiro" foi colocada de propósito e não foi como provocação como já se perceberá.

O Sr. Scolari, responsável por um grupo de trabalho que teve de sofrer inúmeras alterações, pode não ter tanto mérito como já lhe chegaram a atribuir mas devo confessar que recentemente lhe descobri uma qualidade que me obriga a escrever sobre esta coisa que é o futebol e o que o rodeia. A qualidade de não suportar o insuportável. A interminável estupidez dos insaciáveis jornalistas desportivos portugueses.

Ainda não consegui sequer perceber muito bem a função destes senhores. Entrevistas, comentários, análises. Tudo do mais perfeito ridículo. Perguntas para as quais não há resposta possível. E mais perguntas sobre nada de interesse. Se vão jogar para ganhar. Se A ou B está contente ou descontente porque joga ou fica no banco. Enfim, uma panóplia de coisas interessantes par aquem não tem vida para viver.

Ao Sr. Scolari não pararam de repetir o mau desempenho. E não é pouco? Como chegamos lá assim? Mas é possível? Somos uns coxos! O herói é uma besta. Não sabe que X joga melhor naquela posição que Y. Para isso até eu faria melhor. E com a insanidade mental de uma sociedade entorpecida pergunta-se porque custou tanto o sucesso. Porque custou tanto chegar onde outros bem maiores e melhores do que nós não conseguiram. É verdade os ingleses tropeçaram e não vão estar onde os portugueses irão estar com este enorme insucesso que foi a qualificação.

A reacção que este senhor teve na conferência de imprensa ao abandonar os jornalistas, deixando-os com as suas perguntas inteligentes órfãs, foi uma reacção normal de um ser humano que tem vergonha na cara e não está para aturar mais portugueses estúpidos e mal educados. Este senhor brasileiro que instigou meio Portugal a colorir-se nas cores de uma bandeira feia e nos sons de um hino intragável, é o mesmo que hoje recebe, de acordo com a boa tradição portuguesa, um valente pontapé no traseiro. Eu sei, ele não se vai ainda embora. Muito embora o deva estar a desejar. Vai cumprir a sua função e o seu contrato. Poucos portugueses o fazem, mas este senhor está imune a essas portuguesisses. Não se foi mas já tem a cama feita. Caso venha um mau resultado já sabe o que o espera. Mas caso consiga um bom resultado coitados dos jornalistas. Eu sei o que faria se fosse um Scolari campeão. Nada mais nada menos que, em plena conferência de imprensa no final do campeonato... "agora ide-vos foder!"

Para Saramago

Hoje, numa passagem televisiva muito rápida observei que o nosso escritor José Saramago apareceu publicamente numa cadeira de rodas. Não li ainda nada sobre o assunto mas, perante a evidência de que este possa estar de alguma forma fragilizado na sua saúde física, quero manifestar o desejo de uma recuperação rápida e de uma vida longa. Tão longa que ainda nos possa trazer muitas mais obras brilhantes como as que trouxe até aos dias de hoje.

Pensamento este, sem dúvida algo egoísta, mas muito sincero. As melhoras para o maior escritor português vivo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pensar com os genitais...

Um post curioso num dos sítios da blogosfera que mais me dá prazer ler, o Zero de Conduta, vem lembrar-me que a nossa sociedade, em muito poucos anos sofreu uma transformação radical.

O post refere-se à recém lançada campanha da cerveja Tagus, que utilizando uma fórmula de marketing disruptivo, opta por ser politicamente incorrecta no sentido de criar um site onde se promove aquilo a que decidiram chamar, em alusão ao que sucede com os movimentos gay e com as suas famosas paradas, "Orgulho Hetero".

E este post (ler aqui) é curioso justamente porque, seguindo uma linha de intervenção social de tendencia de esquerda, cai precisamente no erro mais reaccionário de considerar esta campanha uma espécie de marcha homofóbica, ou uma espécie de cruzada pelos valores tradicionais de uma sociedade que me parece ter-se já esquecido de quais são esses valores e de que forma os pode recuperar. Pior ainda, se é pertinente na realidade actual recuperá-los. E é reacionária porque se propôe a descriminar em nome de uma defesa de não descriminação. Primeiro porque a cerveja não é assim tão má. Depois porque apela à retirada imediata da referida campanha quando não existem quaisquer motivos razoáveis para que isso suceda.

Se uma qualquer marca resolvesse sair à rua com uma campanha de marketing baseada no "orgulho gay" toda a gente batia palmas e se aliava a um baluarte da defesa da igualdade e da não descriminação. Quando uns cérebros pouco iluminados resolvem pegar na ideia abstrusa que é o conceito de "orgulho gay" transportando-o para o outro lado, saem todos que nem umas donzelas ofendidas ou cavaleiros andantes em defesa dessas donzelas. Ora, esta palhaçada da Tagus só vem no seguimento das palhaçadas que são as marchas do "orgulho gay". A filosofia é a mesma e pobreza de espírito também. O mesmo folclore e o mesmo circo.

Isto permite pensar que hoje não existe, de parte da comunidade gay, e de todos os defensores do circo montado em torno de uma parcela politicamente activa desta comunidade, uma ideia de igualdade mas antes uma ideia de supremacia que abomina todos os valores hetero. E isso revela-se nas reacções a esta acção de marketing que já está a cumprir parte do seu objectivo. Veja-se aqui o que é a verdadeira face dessa parcela da comunidade gay ofendida traduzida em imagens sucessivas de um puro mau gosto não apenas contra a referida cerveja mas contra a heterosexualidade em si aliando-a inclusivamente à violência doméstica e ao fascismo e nazismo.

As duas formas de descriminação são igualmente reaccionárias. A heterosexualidade agora está a tornar-se uma comportamento desviante? Uma anormalidade? É assim tão chocante que homens e mulheres tenham orgulho em gostarem uns dos outros? Que puta de socidade estamos nós a construir?

Agora o mais importante de tudo isto é que não vejo qualquer problema em que um gay tenha orgulho em o ser e que um hetero tenha orgulho em ser hetero e em expressar livremente esse orgulho. Convenhamos que a ideia de descriminar alguém pelo que gosta de fazer com os seus genitais... por favor!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A ira do monarca

Ontem e hoje tenho lido e visto algumas noticias sobre a troca de palavras algo amargas entre o presidente Venezuelano e José Luis Zapatero com a intervenção algo caricata em defesa de uma honra há muito perdida na história do monarca espanhol. As declarações produzidas por Hugo Chavez na cimeira ibero-americana no Chile geraram uma celeuma e uma atitude de auto-defesa dos espanhóis que chegou ao ridículo de colocar Zapatero a defender Aznar justamente nos pontos onde supostamente mais discordavam quando lhe ganhou as eleições.

Neste momento, contra Hugo Chavez todos os argumentos valem. As suas declarações estão muito próximas da verdade e representam a sua própria verdade e visão. A Venezuela é hoje um grande incómodo para os EUA e Europa e estes amigos e aliados tudo farão para que o povo venezuelano sofra na pele tão breve quanto possível por ter ousado divergir da ditadura liberal global. Pagará Chavez certamente, mas o povo irá pagar muito mais, à semelhança do que pagou o povo chileno quando estes mesmos aliados mutilaram a democracia e apoiaram a tomada do poder por Pinochet.

Não sou advogado de defesa de ninguém e de nenhum regime mas é óbvio que cada país e cada povo merecem a sua dignidade. Chavez pode não ser um Cavalheiro mas a Venezuela e o povo venezuelano merecem todo o respeito pelas suas escolhas. O incidente na cimeira foi muito mais que uma troca dura de palavras. Foi sobretudo o vir à tona do recalcado espírito imperialista espanhol. Um pouco identico ao que a nossa direita tem para com África. A atitude do monarca, por vir de uma figura que nunca pode reagir assim perante um dirigente e representante legítimo de um país irmão saído do tão cruel imperialismo espanhol, essa atitude foi a atitude de um porco. É a verdadeira face da monarquia e do revanchismo histórico espanhol que veio à tona. Se a democracia vem dos votos (o que na minha opinião é uma ideia algo limitadora do conceito de democracia) então, Chavez está ainda no sistema democrático. Ele quer retirar o limite de mandatos. É discutível. pode ser positivo se ele não cair na tentação do poder pessoal e NUNCA retirar o poder ao povo por forma a que este o possa de lá tirar se essa for a sua legítima vontade. As nacionalizações (a célebre cassete da direita) não estão a ser um processo linear e muito menos global. É de referir que Chavez tomou iniciativas duras contra a fuga aos impostos e isso incomoda por demais muitos dos estrangeiros que residem naquele país. Mas ele nunca referiu que nacionalizaria a tasca da esquina. E seria um erro se o fizesse. Já aprendemos que pior que um capitalism das elites só um capitalismo monopolista de estado. Não acredito que ele caia no erro de mutilar toda e qualquer iniciativa privada, sobretudo a não parasitária. Já agora relembro que, muitas empresas dadas como falidas foram autorizadas a serem tomadas nas mãos dos seus trabalhadores em processos que são alternativos e mesmo contrários aos processos de nacionalização. Chavez, ditador ou libertador, veremos. Não espero dele o que poderia esperar de um Allende, mas a vida não pode ser vivida sem esperança que um dia este nosso império global liberal também vai cair.

Ler outra visão deste tema aqui.

domingo, 11 de novembro de 2007

O paciente consumidor

A carteira é a arma mais poderosa nos dias que correm. O consumidor, rodeado de artigos ávidos de serem consumidos e potenciado por todas as possibilidades de créditos para tudo o que a sua imaginação possa alcançar, torna-se num paciente não auto-realizado de uma patologia que pode tornar-se crónica. A economia liberal, a economia vitoriosa no século XXI, é a economia do consumo e da necessidade obsessiva de consumir. O sistema liberal obriga-se a eliminar a palavra necessidade no sentido real do termo transformando-a e adoptando-a de tal forma que torne o supérfluo, indispensável.

O consumismo, sendo uma exigência básica do sistema económico liberal, transforma-se numa patologia ela própria necessária. Ou seja, existe uma necessidade que não sejam consideradas apenas as "necessidades" das pessoas para que a economia liberal funcione como deve funcionar.

O consumo em economia liberal exige um direito de consumidor e exige também uma normalização de relações entre consumidores e entidades fornecedoras e fabricantes. À medida em que o sistema liberal avança diminui o número de intervenientes mas aumenta exponencialmente o poder de cada um dos lados. O primeiro porque começa a assentar num conjunto limitado de corporações que arrasam a pequena iniciativa empresarial. O segundo porque no seu estado de consumidor patológico não consegue distinguir conceitos como "necessidade" ou "direitos" ou mesmo "deveres". Dos dois lados, o respeito afoga-se numa arrogância comercial que torna os intervenientes em dependentes de relações efémeras baseadas em guerras de cêntimos.

O consumidor, aparentemente mais exigente e mais informado, aparece mais exigente de facto mas, regra geral mais desconfiado e com uma postura mais arrogante e egocêntrica. A economia liberal coloca o indivíduo e a sua carteira no centro de todo o poder, enquanto que, do outro lado as corporações crescem e se reproduzem. Desaparece o comércio especializado e o conceito de comercial técnico.

A concorrência, apresentada como a grande virtude do liberalismo, limitada a meia dúzia de corporações, tem-se vindo a tornar num factor impulsionador do desemprego e do emprego precário. De uma mão de obra desqualificada e demasiado jovem. Tem também instituído o pagamento miserável dessa mesma mão de obra como factor regulador das quebras de lucro com a diminuição das margens de comercialização. Com menos capital disponível a economia liberal torna-se assim num recreio para as minorias e num pântano de créditos mal parados para aqueles que não resistem aos estímulos de consumo. Os que não conseguem libertar-se da patologia consumista.

A concorrência é um mito do liberalismo que nos dá a impressão de termos mais e melhores produtos quando na realidade podem até ser mais mas saem com centenas de marcas dos grandes grupos que detêm os capitais e os seus direitos. E o consumidor empossado de um estatuto que o coloca como ponto central na importância da economia, torna-se também num portador inconsciente de uma nova forma de desumanidade.

Em suma, o liberalismo é ele mesmo desumano. Contudo não me parece possível antever uma alteração, uma evolução social positiva nas próximas décadas. Penso que o ideal, enquanto a esquerda não encontra soluções de diálogo para ultrapassar os seus fantasmas do passado libertando-se da sua pose pseudo-intelectual dos mil dogmatismos dentro de tantas outras sub-ideologias, será transformar o consumidor, não politicamente, mas antes no divã da psicoterapia.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Em verdadeira defesa do consumidor


É sempre positivo ver que a DECO, defesa do consumidor, encara com a mesma visão que eu próprio a questão da pirataria informática e dos direitos de autor ao não se coibir de publicitar a imagem da própria associação num dos sites onde é possível a tão actualmente perseguida partilha de ficheiros.

Um tema para outras conversas… mas fica a imagem.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ONDE ESTÁ O CORREIO?

Embora com uma noção já algo distanciada do que é ter uma vida normal de trabalho nos horários considerados normais, continua a ser um hábito marcado por uma certa ansiedade, aquele de abrir a caixa do correio antes de sair de casa.

A cada dia que passa esse hábito torna-se num exercício estranho de procurar o correio. Não que a caixa seja grande. Pelo contrário é até um pouco acanhada. Contudo é possível retirar dela uma panóplia de conteúdos que tornam complicada a tarefa de selecção do que pode ser interessante e do que é visivelmente lixo. O correio, aquelas cartas que esperamos, as das contas e as outras que nos podem trazer boas ou más notícias. A correspondência normal da vida de uma pessoa que existe na sociedade e é tratado com a igualdade de qualquer outro correspondente costuma agora estar depositada no meio de todos os folhetos publicitários de todas as superfícies comerciais que existem pelo menos num raio de cem quilómetros da residência.

Há uns anos alguns iluminados resolveram inventar um autocolante onde o “dono” da caixa de correio poderia manifestar a sua vontade de não receber todos estes conteúdos publicitários. Depois disso foram inventadas as publicações gratuitas. Os autocolantes foram sendo degradados com o passar da moda do direito à não informação. E hoje tudo está esquecido. Continuam a derrubar-se árvores para publicar folhetos publicitários do mais puro mau gosto e da mais pura provocação. No entanto outros existem que podem conter informação importante e interessante. Quando inventaram esses autocolantes esqueceram-se que seriam muito facilmente contornados pelas grandes corporações uma vez que com o respectivo acesso a bases de dados poderiam sempre bombardear com publicidade direccionada, ou seja disfarçada de normal correspondência. O talho da esquina, a serralharia ou o pequeno mercado do bairro, os serviços do canalizador ou do pedreiro, da doméstica ou do cabeleireiro, enfim dos pequenos negócios que não têm bases quanto mais dados, esses ficavam arredados da possibilidade de publicitar directamente os seus serviços.

Perante ideia tão idiota, mas sobretudo perante o estado actual dessa mesma ideia e das ditas caixas de correio seria bom que se proibissem as grandes superfícies de distribuir os folhetos em formato de papel por todas as residências. É uma medida mais fácil que fazer a selecção de quais as que queremos ou dispensamos de receber.

Já não há paciência para a mediocridade publicitária dos senhores que criar coisas como o “eu é que não sou parvo”. E podemos observar e esperar muitas outras mediocridades mesmo de instituições que julgávamos estarem afastadas desta guerra que leva ao comportamento obsessivo dos consumidores por cêntimos à velha moda das feiras. E depois dizem que é proibido o dumping e permitem publicidade descarada a produtos claramente abaixo de preço de custo. E o consumidor convencido que este entulho na sua caixa de correio o vai ajudar a ter um menor custo de vida quando o que vai é oferecer tudo aquilo que ele não necessita por uma pechincha que na realidade já não pode pagar. Naquela mesma caixa de correio estão escondidas as contas, aquelas que nos custam o ar que respiramos e nos tiram a vontade de irmos trabalhar no dia seguinte roubados que somos por todos estes intervenientes na nossa vida.

Contrariado arrasto comigo todo aquele entulho até o poder separar quando chego a casa. O que interessa é folheado com alguma atenção. Bem menos do que seria se não tivesse mais uma pilha ao lado para continuar a triagem. O que não interessa vai para o lixo. Não para a reciclagem, mesmo para o lixo. Nestes breves momentos acredito que o mundo não tem forma de ser reciclado e não merece ser salvo. Apodreça então, de preferência ainda antes das promoções.

domingo, 4 de novembro de 2007

De volta a 1975

Não vou falar do PREC. Nem sequer de política. 1975 foi o ano em que saíu um dos álbuns conceptuais (como então se chamavam às compilações de músicas feitas com um certo sentido ou com uma história para ser contada) que mais me influenciou a partir do momento em que o conheci.

Foi um pouco ao acaso que comprei aquele primeiro CD de música. E como era o primeiro pensei que deveria ser algo em que deveria arriscar. Já conhecia a banda através de uma gravação de qualidade duvidosa que consegui naquela prática que tinhamos (calculo que todos os que tiveram o prazer de viver os tempos em que a rádio ainda era rádio) de passar para as velhinhas cassetes tudo o que de interessante pudesse passar nos nossos programas preferidos. A rádio ainda era feita por pessoas e estávamos no final da leva de rádios piratas que tanta falta fazem a este país. E pouco me importa o que dizem os estafermos que zurzem contra a pirataria. Não se trata de pirataria mas antes de respirar a música que hoje teimam em fazer ficar nas prateleiras de uma história esquecida. Piratas são todos os que compôem a corja que nos dita o gosto, que vomitam estas modas dos hip-hop e fantuchadas musicais do género. Esses que cospem na arte e no amor de criação musical porque apenas lhes interessa o negócio. As minhas cassetes e as cassetes de muitos como eu encheram muitas prateleiras e passaram horas e horas a fio nos velhos leitores com aquela qualidade deprimente mas com aquela presença fundamental às nossas vidas.
Comecei a tocar baixo por cima dessas mesmas cassetes que esses profissionais de rádio sempre souberam que muitos de nós gravavamos porque eles eram a nossa grande fonte de informação musical.
Há muito tinha terminado a década de ouro do rock progressivo. Mesmo há muito tempo, contudo era essa a música que me fazia estar à espera de dois ou três programas nessas mesmas rádios piratas que me trouxessem ao conhecimento bandas e sons que desconhecia.
O álbum de que falo e que terminei há minutos de ouvir é uma obra singular e para os puristas do progressivo pode ser algo simplista ou não ser sequer uma obra de grande significado. Porém para mim tem todo o significado que pode ter uma surpresa do tamanho de um mundo desconhecido. Um CD comprado às cegas mas com uma luz que me fez voltar em definitivo para o mundo da música progressiva em todas as suas vertentes e géneros. Falo dos "Camel" o do maravilhoso "The snow goose", uma peça instrumental que me fascinou desde a primeira vez que rodou no leitor de CD's.
Pode não ser a minha banda favorita de todos os tempos, nem sei se isso existe. Mas este álbum é, sem sombra de dúvidas um marco importante na minha vida e nas minhas escolhas musicais.
Era bom que estes senhores pudessem ser mais ouvidos nos dias de hoje, mas já me contento com o facto de a música progressiva estar em franco reaparecimento fruto de fenómenos como a internet. Um bem haja a todos quantos em Portugal fazem manter e crescer este género musical e em especial à PP-AC (Portugal Progressivo - Associação Cultural) que tem feito um esforço incrível para a divulgação desta cultura.

sábado, 3 de novembro de 2007

Uma abertura suave...

Não tendo por hábito e muito menos por gosto deslocar-me a grandes superfícies comerciais, ditou uma necessidade específica que o fizesse num destes dias. Necessidade essa que me levou a encontrar uma realidade para a qual ainda não havia prestado qualquer atenção até aquele dia.

A primeira loja a ser visitada foi uma das lojas Staples. Enquanto estava na terefa árdua de aguentar aqueles pesados minutos observando e procurado os produtos dos quais necessitava e outros que me iam despertando interesse deparei-me com uma observação muito mais interesante. Todos os clientes ou não clientes mas que já alguma vez se tenham deslocado a uma das lojas deste grupo conecem e lembrar-se-ão da indumentária dos funcionários. Não, a questão não está na crítica de moda. Não é esse o tema interessante, mas sim o que está dentro dessa indumentária. Na mesma loja deparei com uma situação que julgava ser quase impossível. Em duas secções diferentes estavam na posição de operadores de loja pessoas com idades claramente acima dos 45 anos. À hora a que ali estava, e permaneci na loja durante cerca de vinte minutos vi dois funcionários, operadores (não falo de posições de chefia) dentro desta faixa etária. A situação tornou-se algo estranha pois nunca me tinha visto numa posição de ter de felicitar uma empresa deste género pelo facto de não descriminar pela idade os seus funcionários. Já na saída desse mesma loja reparei num responsável de departamento, também ele dentro dessa mesma faixa etária. Nesse mesmo dia decici deslocar-me a várias superfícies e observar até que ponto a minha sensação de que vivemos num país que se limita a contratar crianças na idade e no discernimento.

Outra loja do mesmo grupo produziu exactamente os mesmo resultados. Mais tarde, dentro da mesma zona, desloquei-me a um Continente, a um Carrefour (agora também da Sonae) e a duas FNAC. Em todas estas lojas vi pelo menos uma pessoa dentro desta faixa etária como operador ou vendedor.

Podemos observar isto do ponto de vista negativo e dizer que hoje as pessoas são obrigadas a estas posições menores quando já deveriam ter uma posição bem mais confortável na vida. Mas por outro lado, e vendo como são tratados todos os candidatos a entrevistas de trabalho cujas idades superem os 35 anos, podemos partir de uma ideia de que estas superfícies estão a aprender que existe um partimónio insuperável de experiência que a predesposição para a fácil exploração dos mais jovens nunca pode compensar. Os resultados são diferentes porque as motivações também são. Daria certamente um excelente estudo. Contudo não me parece que haja quem se preocupe com tal assunto.

Pelo meu ponto de vista fiquei agradavelmente surpreendido com esta observação. Em várias áreas do grande retalho vi pessoas claramente experientes e capazes que me trouxeram a sensação de que estava perante empresas adultas e sérias e não perante estruturas meramente apoiadas em mão de obra precária e descartável. Talvez esteja a ser algo optimista. Talvez algo ingénuo. Contudo, a mera observação deste fenómeno que é a presença em vários cargos de base nas estruturas destes retalhistas de pessoas acima dos 45 anos de idade. Infelizmente não vemos isso em todas as áreas de actividade. Por exemplo nos bancos torna-se cada vez mais complicado encontrar elementos séniores. Virá daí o facto de cada vez ser pior o atendimento em bancos. Pode até ser mais simpático e mais polido mas é certamente de longe mais incompetente. Não por culpa dos jovens funcionários mas porque os colocam a dar a cara por problemas para os quais não tiveram formação nem apoio suficiente.

Veja-se o exemplo de uma das instituições que ainda há ums anos era considerada como um exemplo de confiança por parte dos clientes e hoje se tornou numa verdadeira desgraça. Os correios e nomeadamente algumas áreas entre as quais os balcões propriamente ditos e a empresa responsável pelas entregas de encomendas expresso.

De qualquer forma não é o momento para analisar isso a fundo. Aproveito este espaço para felicitar essas pessoas e sobretudo essas empresas que tiveram a coragem de colocar à frente das suas lojas homens e mulheres experientes e com idades acima das consideradas normais por esta canalhada de novos gestores de recursos homanos e gestores. A estas empresas e a outras que pratiquem a mesma política de contratação e não estejam aqui referidas tenho de felicitar.

De hoje em diante vou reparar neste importante pormenos e boicotar todas as empresas que promovam esta ou outras formas de descriminação.