sábado, 25 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Anesthetize... Porcupine Tree

Há razões que a própria razão desconhece, mas esta é uma banda que tenho de considerar como a melhor da actualidade e por esse motivo fica mais um dos temas que considero incontornáveis. Ao vivo e a cores...

domingo, 19 de junho de 2011

Em nome de Deus

Transcrevo na íntegra o texto publicado pelo Filipe Guerra no seu blogue "O quotidiano da miséria"

"Ratzinger, a Igreja Católica e a Croácia Ustacha"



"No passado fim-de-semana, o Papa BentoXVI(ora em diante designado por Ratzinger) fez uma visita à Croácia. Além do contacto que terá realizado com o povo católico croata, a sua visita fica marcada pelo conjunto de gestos simbólicos que tiveram lugar.
Ratzinger celebrou uma missa no Hipódromo de Zabreb, no exacto lugar onde o seu antecessor já havia realizado uma missa em 1994, numa altura em que a guerra dos balcâs estava em curso a apenas 40Km daquele local. Não foi por mero acaso que o Vaticano e a Alemanha foram os dois primeiros estados a reconhecerem a Croácia e a Eslovénia, como adiante se verá.

Aproveitando a sua passagem, Ratinger recebeu ainda o cantor croata Thompson e rendeu homenagem ao tumulo de Alojizje Stepinac.

Quem é o cantor Thompson?


Thompson é o infeliz nome artístico escolhido por Marko Perkovic, em homenagem à marca da arma utilizada na guerra dos balcãs. Mas Thompson vai muito mais longe.


A sua popularidade na Croácia deve-se não apenas às suas músicas, mas essencialmente ao carácter ferozmente católico e nazi-fascista da sua mensagem. Thompson gosta de utilizar simbologia e conteúdos fascistas nas suas performances e nas letras das suas músicas, fazendo questão de incendiar os seus concertos com ódio étnico e religioso contra a diversidade e é conhecido pelas suas entradas em cena saudando o público de braço em riste, de forma nazi. Por estas e outras atitudes, os seus concertos já foram proibidos em diversos países europeus como na Suiça.
Já no início da sua carreira as mensagens eram claras na utilização de letras com conteúdos ultranacionalistas e no recurso ao slogan ustacha Za Dom Spremni!(pela pátria prontos!)e em diversas entrevistas e declarações não escondeu o seu ideário, tais como: "não existe nada de mal nas minhas crenças de direita e ustaches", "os sérvios mentem, são esse tipo de gente, são os nossos eternos inimigos"(Julho 2002), "eu não me importo com os simbolos ustache, porque deveria?"(Agosto de 2005), "porque é que o público não deve gritar ustache!, ustache! durante os meus concertos"(Junho 2002).


(Ratzinger, tal como o Papa Karol Wojtyla recebe Thompson)

(a simbologia ustacha e nazi-fascista sempre presente nos concertos de Thompson)

Só uma impossível dose de bonomia ou de ingenuidade poderia desculpar a atitude consecutiva de dois Papas, em receber em tão hedionda personagem.
Ratzinger, que de há muitos anos a esta parte juntou à sua actividade teológica o domínio do rumo político e ideológico da Igreja Católica é o mesmo homem que na sua juventude pertenceu às "Juventudes Hitlerianas"(uma força avançada para os mais ideologicamente convictos). E na sua recente passagem pela Croácia foi muito além no branqueamento da História e no seu revisionismo, insultando e provocando as vítimas do holocausto nazi na Croácia, ao prestar homenagem ao tumulo do Cardeal Alojizje Stepinac.

Quem foi o Cardeal Alojizje Stepinac? Qual a sua relação e o que foi a Croácia ustacha?

Em 10 de Maio de 1941, logo após a entrada em Zagreb das tropas nazis de Hitler, nasce o NDH(Nezavisna Drzava Hrvatska), o Estado Independente da Croácia liderado por Ante Pavelic. Este Estado, tutelado pela Alemanha nazi, obedeceria igualmente ao princípio de um fuhrer subordinado a Adolf Hitler.



(o líder Ustacha Ante Pavelic)


No momento da invasão do Reino Jugoslavo, Hitler teve o apoio de um perigoso movimento interno instalado já na Croácia e apoiado pelo regime fascista de Mussolini, de cariz terrorista e filonazi, e até já acusado internacionalmente de tentativas de homicídio de diplomatas estrangeiros em França. Esse movimento filonazi e de forte cariz católico era o Partido Ustacha, de Ante Pavelic, que sonhava com uma Croácia católica livre da presença Sérvia ortodoxa.



(Ante Pavelic com Adolf Hitler)


É neste contexto que o Cardeal Stepinac é nomeado por Ante Pavelic Supremo Vigário Apostólico Militar do Exército Ustacha, facto muito exaltado pela a imprensa católica da época "Deus que controla o destino das nações e dirige o coração dos reis, deu-nos Ante Pavelic(...)Glória a Deus, a nossa gratidão a Adolf Hitler e infinita lealdade ao Chefe Ante Pavelic"

Uma investigação da Comissão de Crimes de Guerra na Jugoslávia concluiu que o Cardeal Stepinac foi um dos conspiradores contra o Reino da Jugoslávia e um apoiante ab initio da invasão nazi. O Cardeal Stepinac sonhava tal como as altas instâncias católicas com a edificação de um Estado católico nos balcâs, e o fanatismo étnico-religioso do Partido Ustacha era o instrumento perfeito para esse objectivo.
Durante este período, o Papa, de então, recebeu pessoalmente Ante Pavelic e uma delegação da Irmandade dos Grandes Cruzados, encarregados de converter ao catolicismo os povos daquela região.


(o Cardeal Alojizje Stepinac)




(O Cardeal Alojzilze Stepinac com altas instâncias nazi-fascistas italianas, alemãs e croatas)


Durante os quatro anos de existência do NDH, Estado Independente da Croácia, foram assassinados, por estimativas, 750mil sérvios, judeus, ciganos entre outros. A par da Alemanha, a Croácia foi o único país que possuiu campos de extermínio em massa.

Contudo, ao contrário da Alemanha nazi que perpetrava um extermínio indústrial mas discreto, a Croácia Ustacha além dos seus campos de extermínio, cometia execuções colectivas em locais públicos da Croácia e da Bósnia, com particular sadismo e de forma entusiástica, recorrendo à tortura pública e à humilhação. Segundo o historiador Friedriche Heer tudo resultava a partir de "um fanatismo arcaico de épocas pré-históricas", tendo Ante Pavelic sido "um dos maiores assassinos do séc.XX".


(Stejpan Filipovic, comunista croata enforcado aos 26 anos grita "morte ao fascismo, liberdade para o povo")


(o Cardeal Stepinac e os generais Ustacha)



No NDH, a confusão entre Estado e Igreja, entre políticos, militares, cardeais e padres era total. As suas declarações demonstram grande complementariedade. O Cardeal Stepinac considera que "depois de tudo, os croatas e os sérvio, pertencem a dois mundos diferentes, um polo norte e um polo sul, nunca se darão bem, nem por milagre de Deus", o Ministro da Justiça, o Ustacha Milan Zanitcha acha "Este Estado, o nosso país, é nosso e só nosso, não é para mais nínguem, limparemos dele todos os sérvios ortodoxos(...)Não ocultamos as nossas intenções, seremos fieis aos princípios Ustacha", mas palavras do Ministro da Educação Mile Budak conseguem ser ainda mais claras "A base do movimento Ustacha é a religião. Para as minorias como os sérvios, os judeus ou os ciganos temos três milhões de balas. Mataremos um terço da população sérvia, deportaremos outro terço e o outro terço converteremos na religião católica até que se assimilem como croatas".





(Ante Pavelic com padres franciscanos)


A ferocidade Ustacha era extrema e conseguia impressionar mesmo as altas patentes da Alemanha nazi, Reynard Heinrich(o inventor da solução-final nazi) em 17 de Fevereiro de 1942 escreveu a Himmler "o número de eslavos massacrados pelos croatas das formas máis sádicas está estimado em 300mil(...) a realidade é que na Croácia, os únicos sérvios que sobrevivem são os que se converteram ao catolicismo".
A violência extremada impressionou também as próprias forças fascistas italianas que controlavam parte do território croata e que se recusavam a devolver aos Ustacha alguns refugiados que chegavam à sua zona de controle. Tal facto revoltou o Cardeal Stepinac, que em carta ao Bispo de Mostar lhe escreve "se a parte mais católica da Croácia o deixar de ser no futuro, tal responsabilidade ante Deus e a História será da Itália católica".
A conversão forçada ao catolicismo, não obstante a sua carga simbólica e a violência que pressupunha para os convertidos, não era possível para todos. Primeiro porque ela pressuponha um preço de 180 dinares a entregar à Igreja Católica, e segundo, porque dessa conversão ficavam excluídos os sérvios com maior escolaridade, no pressuposto que estes nunca fariam uma real conversão. Quem não tivesse posses ou tivesse estudos era exterminado sem contemplações.



(imagem de uma conversão forçada)


Um pormenor(!) sórdido deste genocídio consiste no facto de que parte das atrocidades cometidas e de vários dos mandantes dos campos de extermínio serem sacerdotes e sobretudo padres franciscanos. Era quase impossível desenvolver-se uma acção punitiva Ustacha sem a presença de um padre franciscano. Sendo que destes, o mais conhecido de todos foi o padre franciscano Miroslav Filipovic, director do campo de extermínio de Jasenovac.



(o líder Ustacha Ante Pavelic rodeado de freiras)



O Campo de Extermínio de Jasenovac

Dos vários campos de extermínio edificados pelos Ustacha, o campo de Jasenovac foi o maior de todos, calculando-se que aí foram brutalmente assassinadas várias centenas de milhares de pessoas, maioritariamente sérvios, judeus, ciganos e croatas comunistas. Existem estimativas que apontam o número total de 700mil pessoas.
O campo possuia ainda no seu complexo um campo para crianças em Sisak e outro para mulheres em Stara Gradiska. Ainda que, muitas mulheres tenham sido deportadas para a Alemanha nazi e diversas crianças entregues a orfanatos católicos.
Refira-se também que as condições de permanência no campo eram desumanas, sem higiéne, bens alimentares ou a água necessários para a sobrevivência e ainda a obrigação de trabalhar. O campo era dirigido por Vjekoslav Luburic





(a entrada no Campo de Extermínio de Jasenovac)



O extermínio em Jasenovac era feito de diversas maneiras: por rajada de metralhadora, por cremação, envenenamento e uso de gases tóxicos(Ziklon B e dióxido sulfúrico) e através da faca srbosjek conhecida por "mata-sérvios".
Os extermínios tinham lugar em Granik, Gradina, Mlaka e Jablanac e ainda Velika Kustarica. Sendo que à medida que a derrota das forças do Eixo se aproximava, o ritmo de extermínio ia aumentando. Os corpos das vítimas eram cremados ou atirados ao rio.




(Srbosjek, a "mata-sérvios)


(guarda Ustacha numa vala comum)


(corpos esquartejados deixados no rio)



Um relato de um dos guardas do campo de Jasenovak ficou para a posteridade, segundo ele, "o franciscano Pero Brzyca, Ante Zrinuzic, Sipka e eu fizémos uma aposta para ver quam mataria mais prisioneiros numa noite. A matança começou e depois de uma hora eu já tinha morto muito mais que eles. Sentia-me no sétimo céu. Nunca tinha tido tanto extase na minha vida. Depois de duas horas já tinha morto mais de 1100 pessoas, enquanto os outros não conseguiram assassinar mais de 300 ou 400 cada um. E depois, no auge deste prazer reparei num velho que me olhava indiferente. Esse olhar impressionou-me, congelei durante algum tempo e nem me conseguia mexer. Aproximei-me dele e descobri que era do povo de Klepci, perto de Kapijina, e que toda a sua família já tinha sido assassinado enquanto ele trabalhava no bosque. Falava para mim com uma incompreensível paz que me incomodava muito mais que os desgarrados gritos que ouvia ao meu redor. Imediatamente senti a necessidade de terminara com a sua paz mediante a tortura, mediante o seu sofrimento, para poder voltar ao meu extase, para poder continuar a retirar prazer de infligir dor.
Ordenei-lhe que gritasse Viva Pavelic! ou corto-te uma orelha. Não falou. Cortei-lhe a orelha. Não disse nada. Disse-lhe que gritasse Viva Pavelic! ou corto-te a outra orelha. Não disse nada. Cortei-lhe a outra orelha. Ameacei-o que lhe cortava o nariz se não gritasse Viva Pavelic!, ao que ele me respondeu "Faça o seu trabalho, criatura". Estas palavras confundiram-me e congelaram-me, arranquei-lhe os olhos, depois o coração, cortei-lhe a garganta de orelha a orelha. Mas algo se rompeu dentro de mim e não consegui matar mais nessa noite. O franciscano Pero Brsyca ganhou a aposta e eu paguei-lhe".

A Igreja Católica soube sempre o que se estava a passar. Padres e bispos da região houve que se entretinham a enviar cartas para o Vaticano onde até escreviam poesia sobre estes acontecimentos. Ante Pavelic tinha o desplante de oferecer ao seu biógrafo pessoal e a alguns dignatários estrangeiros cestas carregadas de olhos humanos, e a rádio BBC em 16 de Fevereiro de 1942 reportava "As maiores atrocidades estão a ser cometidas à volta do Arcebispo de Zagreb. Correm rios de sangue. Os ortodoxos estão a ser condenados à força a converter-se ao catolicismo e não ouvimos do Arcebispo uma palavra de revolta sobre isto. Em vez disso, sabe-se que está tomar parte em desfiles nazis e fascistas".


Foi o colaboracionismo com as forças nazi-fascistas da Alemanha na Croácia, foi o Estado NDH, o movimento Ustacha e a sua barbaridade que Ratzinger foi homenagear no tumulo do Cardeal Alojizje Stepinac. Treze anos depois de João Paulo II, Karol Wotjyla, já ter procedido à sua beatificação.

Ante Pavelic - líder do NDH e do Partido Ustacha, após a 2ºguerra mundial, foge para um mosteiro franciscano em Nápoles, de onde, com a ajuda da igreja católica parte para a Argentina, onde fará parte do corpo de segurança pessoal de Perón, é visita frequente de eventos sociais da nobreza e da Igreja católica em Madrid, encontra amizade em Francisco Franco. É localizado na Argentina pelos Serviços Secretos da Jugoslávia e é baleado com dois tiros que lhe serão fatais. Está enterrado em Madrid.

Vjekoslav Luburic - comandante do Campo de Extermínio de Jasenovac, parte para Espanha e numa localidade perto de Valência faz-se passar por um reformado alemão que gosta de tomar conta do seu laranjal e de organizar iniciativas com a diocese local. Em 1969 é localizado pelos Serviços Secretos da Jugoslávia e é assassinado à porta de sua casa. As suas últimas palavras terão sido "já sabia que vocês um dia vinham".

Alojizje Stepinac - após a 2ºGuerra é julgado e condenado a 16 anos de prisão, dos quais apenas cumprirá 5 devido a um gesto de conciliação de Tito. Com a condição de ou ir para Roma ou ficar confinado à sua casa. Preferiu ficar em casa."

Filipe Guerra in "O Quotidiano da miséria!"

Vamos fazer dinheiro...



Mais uma excelente peça de análise do nosso mundo,

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pesadelo...

"Como um enrolar de palavras que se repete continuamente. Sempre a mesma banalidade e a mesma intolerância por baixo da capa democrática de uma boa vontade iniludível ainda que tentada. Sucessão de mentiras e vagos planos, intróitos sem continuidade e enganos. Esperas sem chegadas, e adormecer, enfim, de um sono do qual nunca se acordou... pesadelo... "

Pedro Norman

Do Japão, Kimio Mizutani - A Bottle Of Codeine

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Venham as malas de cartão...

Começa bem. Passos Coelho diz que tem como objectivo "restabelecer a confiança no futuro, nos mercados e nos portugueses". Ora, confiança no futuro, claro, é algo que supostamente existe a seguir ao presente. Confiamos que exista um futuro, poderá é não ser propriamente melhor. Mas a seguir na escala de importâncias vem a confiança nos mercados. Esses valentes e escorreitos mercados (que por acaso até nem foram os que nos enterraram nesta lama onde nos encontramos). E depois, lá ao fundo, porque não, a talhe de foice, restaurar a confiança nos portugueses. E como fazer isso? Fazendo com que lhes sejam colocados novos desafios, os de pagar mais impostos, os de pagar mais pelos bens essenciais e pelos direitos constitucionais (ainda) da educação e saúde, facilitando o despedimento e derrocando a economia. Há que dar uma prova de confiança que, perante tudo isto, os idiotas que elegeram Passos Coelho conseguirão superar todos estes desafios. A grande maioria conseguirá certamente, no estrangeiro.