quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Greve Geral v.2011

Precisamente há um ano atrás, foi realizada uma paralisação (quase) geral do país. As condições eram então muito difíceis e adivinhava-se que viriam dias de grandes desafios levantados aos mesmos sofredores de sempre. Com o acentuar de uma crise cada vez mais transformada em farsa comunicacional, a farsa de uma ditadura de mercados que consegue sobrepor-se ao valor humano, seja ele individual ou colectivo, passámos em doze curtos meses a uma situação de indigência nacional onde, de forma embrutecida e estúpida, aqueles que entenderam que deveriam ir votar nas eleições de Outubro, mesmo tendo muitos deles carregado com cartazes contra o engenheiro Sócrates, entenderam, votar nos partidos que constituem o actual governo.

Dizia-se em tempos que o”o povo é quem mais ordena”, e isso constituiu um princípio básico da construção tendencialmente democrática da nação, que depressa foi transformada nesta amálgama de revanchismo que nos leva a entender, às gerações descendentes dos criadores de Abril, que estes não passaram de cobardes por não terem feito uma verdadeira revolução e por terem deixado escapar incólumes todos aqueles que durante foram décadas os “donos” do país e os sustentáculos do obscurantismo corporativista de Salazar e Marcello. As eleições de Outubro marcaram claramente a intenção de um povo que, na ignorância, na crença ou na imbecilidade deliberada, resolveram devolver à nação os subprodutos elaborados dos resquícios do bolor corporativista. Porque nunca foi aniquilado o poder político. Porque nunca chegou a ser destruída a sua base económica.

Muitos dos actuais mega ricos deste miserável país, saíram alegadamente de cá sem quaisquer bens. E muito rapidamente o capitalismo fez o favor de dizer que necessitava de um exército de empresários para dinamizar uma economia que, não só nunca foi dinamizada, como acabou parasitada por toda a escola ultra-liberal, que, nunca tendo chegado antes ao poder, chegaram agora com todos os ares de prepotência escolástica apelando à fé irracional dos incautos que caíram no conto do vigário, ou que, tal como ele, vivem parasitariamente às custas de um sistema viciado desde a sua fundação. Tendo assim que, eleições seguiram o mesmo padrão de farsa comunicacional que tudo até então e sacrifícios têm que ser feitos em nome da fortuna crescente dos ricos e do empobrecimento irracional e acéfalo dos pobres. Estas eleições foram um acto tão legítimo quanto a prática de um suicídio que tem moldura penal própria. A elição de Passos coelho foi a negação da eutanásia a um país que ainda tinha inclusivamente solução de sobrevivência, numa prática de sadismo político e de masoquismo eleitoral que transporta estes resultados para um patamar de estupidez tão elevados que as torna ilegítimas. E apenas se pode derrubar um governo ilegítimo levado ao poder pela estupidez das massas embrutecidas por um golpe de Estado que resolva construir 26 de Abril em cima do 25.

Hoje, repete-se então uma greve dita geral, mas que todos sabemos que de geral nada pode ter. Não que haja qualquer intenção nesse sentido, mas porque temos mais de setecentos mil desempregados, e a pirâmide demográfica mostra-nos uma população envelhecida e a caminhar para a reforma – eu acrescentaria para a senilidade. Mas ainda temos de analisar todos os contratos de trabalho que não são, todos os micro-empresários que têm de o ser porque não têm outra forma de sobrevivência senão alimentar uma máquina estruturada para fazer dos milionários mais milionários ainda, sustentados nas ordens secretas e outras putarias do género. Um sector privado onde, ainda antes da greve, já adavam a circular documentos onde se exigia a identificação daqueles que haviam a intenção expressa e fazer greve. E todos sabemos para que efeito. Para ir buscar tarefeiros que se sujeitam ao trabalho mendigo para sobreviver ás custas das indigências dos outros. Há sempre uma orde de filhos da puta mesmo nos meios mais miseráveis e autênticos das classes trabalhadoras supostamente esclarecidas. Os encostados da vida, os lambe-botas de sistema e os indignados de ocasião que votaram nesta solução como poderiam ter votado na bomba atómica que o fim seria menos doloroso. A traição é sempre a pior de todas as canalhices, e nas actuais condições há muitos trabalhadores honestos e conscientes que não podem mesmo, em circunstância alguma, fazer greve. O Código de Trabalho tornou-se numa anedota maior ainda que a Constituição que já foi ignorada e contornada por estes vermes que governam a soldo dos seus manobradores. Andamos a pagar os malabarismos de um sistema financeiro para os quais nenhum trabalhador pobre contribui a não ser no roubo contínuo a posteriori dos seus impostos para colmatar os buracos deixados pelos crimes económicos do Presidente Cavaco e da sua escol a de Economia. Os seus fieis discípulos ocuparam os seus lugares e aprenderam a lição de como aumentar fortunas esvaziando totalmente um país, de dinheiro e do resto de soberania que lhe sobrava… O Presidente das reformas antecipadas, mortes anunciadas de gente que aos quarenta e tal anos de idade se viu remetida para o lixo quando esse energúmeno que representa o próprio lixo, foi sucessivamente premiado em eleições pela escória política e económica que ajudou a parir para este país.

Este dia de 24 de Novembro vai representar mais um enorme fracasso das forças do trabalho porque a luta que empreendem é uma luta sem um apoio consciente da enorme maioria embrutecida da população portuguesa, contaminada por televisões e iPhones, que vivem no ideal ainda dos luxos a crédito impostos pelo próprio sistema para que se possa manter, mas dificultado no dia-a-dia por falta de liquidez de bancos que resolveram brincar aos produtos derivados de produtos que não a passaram de enormes fraudes. Ainda assim, representando o que representar esta greve geral, é bom que aconteça, e esperemos que mais gente de trabalho se junte a quem verdadeiramente os defende. Mas ainda não será desta que a luta sai para além do domesticável. E o sistema sabe muito bem que muitas vezes os próprios sindicatos acabam por ser os domadores de algumas situações limite, tornando-se em ultima instância, cúmplices de um sistema irreformável.

sábado, 19 de novembro de 2011

As incongruências técnicas

O Primeiro-Ministro de Portugal afirma que devemos apostar na contenção salarial para que haja um nivelamento dos salários em relação à Função Pública. Um discurso ensaiado no banco do confessionário quando à presença e consequente análise dos peritos da troika em relação à forma como está a ser executado o acordo de empréstimo entre este organismo e o Estado Português, falsamente designado como "ajuda" ou "plano de resgate". Nas entrevistas dadas pelos membros desta comitiva, que é verdadeiramente quem manda no país, ou seja, o governo executivo não eleito, foi clara a intenção de obrigar os salários do sector privado a encostarem-se nas restrições dos salários impostas ao sector público. Acontece que essa ideia, até do ponto de vista do próprio sistema capitalista é um perfeito disparate. Em primeiro lugar porque não existe capitalismo sem poder de compra. E nós não vivemos numa realidade política que nos permita tomar medidas proteccionistas, logo, o consumo interno, em conjunto com o aumento da produção (à qual chamam produtividade sempre que querem fazer entender que os trabalhadores portugueses não são produtivos) é importante para o crescimento do país, da sua riqueza. Mas, noutro plano, porque os salários mais elevados num sector privado fariam com que houvesse uma menor pressão para o emprego público, aquele que é derivado principalmente do amiguismo dos partidos do chamado "arco" do poder. Assim sendo, o próprio peso do Estado tenderia a reduzir. Mas isto são tudo tretas, na realidade. É que, quando dizem estas barbaridades, esquecem-se e querem-nos fazer esquecer que bem mais de metade dos portugueses vivem com salários abaixo dos 700 Euros, sendo que o termo contenção salarial na boca do Primeiro-Ministro tem de ser considerado como obsceno. Quem diz isto desta forma e fora de um contexto que todos conhecemos, aquele em que gestores e outros "boys" levam a fatia de leão dos salários em Portugal quando, os salários da esmagadora maioria dos trabalhadores tem sofrido estagnação (que na prática significa quebra salarial por duas vias, a do efeito da inflação e a da substituição de pessoas nas mesmas funções a ganhar cada vez menos), só pode ser, política e socialmente irresponsável.

A moralidade está do lado das carpideiras

Podem então as alcoviteiras falsas fazer copy /paste deste pedaço de texto. Somos as atitudes que tomamos. Por vezes restos de pessoas que não fazem senão viver a vida de outros que queriam para elas mesmas. Que transmitam por rádio frequência, sinais de fumo ou tambores a rufar. Tanto se me dá ou em bom português, estou-me a cagar. Voltámos aos tempos dos trafulhas, dos delatores, dos escondidos atrás dos arbustos para ver de onde retirar conteúdo para a próxima novela, a próxima intriga, a próxima mentira inventada nos contextos das suas imaginações férteis. Chegámos aos tempos daqueles que, não tendo nada mais útil para fazer, dedicam-se ao exercício do voyerismo psicológico para tentar perceber quem vai "comer" quem, quando as enfabulações já ultrapassam o seu quotidiano de masturbação para os teclados. chegámos ao fim de um caminho onde os amigos traem por medo de entender que os não amigos apenas vivem parasitariamente do seu sofrimento. Chegámos à estação onde o comboio da estupidez chega e descarrega todos os passageiros. Façamos então de conta que a vida se interrompe nestes fait divers, porque a moralidade está do lado das carpideiras.

Os dois tipos

Há dois tipos de pessoas que formam a camada mais baixa do ser humano. Aqueles que não vêem senão para aquém da sua própria dor de cotovelo e passam a vida a invejar os outros pelo que conseguem. E aqueles que são, constantemente nas suas vidas os estereótipos dos perfeitos delatores, os constantes queixinhas. Aqueles que não podem ver ou ler seja o que for que lhes cheira a notícia que logo vão publicar como verdade nos pasquins ou nos ouvidos de quem lhes interessa. Essas duas espécies sub-humanas pairam sempre sobre as nossas cabeças como abutres... Mas os corvos não têm medo dos abutres...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Da Servidão Humana

Uma peça fantástica de análise social, tão poética como científica.

sábado, 5 de novembro de 2011

Capitalismo, a definição do erro.


Se há algo que não vale a pena é argumentar seja o que for em relação ao comunismo, porque não existe argumento possível contra uma forma de construção social que eleva o humanismo ao seu escalão máximo, ainda que, para isso tenham de existir algumas desumanidades pelo caminho. não existe nenhuma forma de construção e de progresso social sem que existam inimigos e vítimas. não é possível retirar das mãos de uma classe dominante do poder sem que se eliminem os mecanismos que sustentam esse poder.

Falar de democracia e assistir a um domínio dos interesses financeiros acima dos interesses dos povos naqueles que devem ser os pilares da construção social, é uma contradição abissal. É admitir que só é sustentável um projecto de liberdade se aceitarmos de bom grado que uma elite minoritária dos ricos e poderosos domine todo o processo de construção social, que mais não é que um processo de manutenção da subserviência das maiorias por inacção contra o levantamento de soluções alternativas.

Não existem soluções alternativas que não possuam um carácter revolucionário, no sentido em que não será possível construir onde toda uma máquina imperial tem bem definidas as relações de poder cuja base assenta na ilusão de que os povos escolhem, quando, de facto, e de acordo com a "engenharia do consentimento", as elites escolhem por eles.

Se a vida humana possui um valor intrínseco que é indiferenciado, se a vida de um operário desempregado que ficou sem casa por não a conseguir pagar ao banco é de igual valor à vida do banqueiro que conta a sua vida aos milhões, então porque se espera para suprimir esses milhões a quem os tem, para retirar o verdadeiro poder que oprime todos aqueles que nunca na vida saberão o que é um milhão?

Não vale a pena argumentar contra o comunismo de forma básica e acéfala como vejo, ouço e leio de forma constante quando aquilo que t~em a oferecer ao mundo é uma base de construção social baseada na opulência de uns sobre a miséria de outros. Não vale sequer a pena falarem de erros, porque todos os processos de desenvolvimento social podem estar repletos de erros, mas não são, como o capitalismo é, a própria definição de erro.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O proto-fascismo militante do governo português

Portugal, mais do que assumir a sua subserviência para com a Europa, assumiu-se ideologicamente como país a caminho de um proto-fascismo, quando decidiram os nossos governantes por uma posição de abstenção face à entrada da Palestina na UNESCO.