terça-feira, 14 de maio de 2013

PARADOXOS


Se apenas pudéssemos carregar todo o peso do mundo, teríamos invertida a gravidade das leis.

Um homem que se senta e escuta, engole as palavras inúteis. Por cada palavra que ouve, acrescenta uma letra à sua sopa, de letras.

As filas de homens que se estendem pelas ruas, são a espera de alcançar a resposta derradeira sobre quais são, efectivamente, as necessidades.

Necessitamos sempre do que não temos, e temos sempre o que desprezamos.

A humanidade vive no equilíbrio dos hemisférios que não domina. Os hemisférios do seu próprio cérebro. É incapaz de olhar dentro, de examinar com minúcia quais as bactérias cinzentas que ofertam o pensamento e, logo a seguir, o tornam na mais inútil das características.

Pensar é, sobretudo, morrer depressa numa existência ilusoriamente lenta. Aparentemente eterna.




quinta-feira, 9 de maio de 2013

CREMAÇÃO EM FOLHETIM


Fugaz, a voracidade de um intento
Rodopio veloz, sabor de vento
Que dança a dança macabra
Dos ossos frígidos, em segredo.
A dança de um ultimato
Desvendado em enredo
De folhetim depascente.

O fruto do eu e tu é a sombra
Projectada à distância de um dedo
Que aponta, seccionado em dobras
Falaciosas. Quisera fazer de haste
Da bandeira que cobrirá, um dia
Debaixo de sol tórrido, ou chuva
Um féretro de madeira escura
Repleto de nós. Os nós que a vida
Dá. Não nós, de tu e eu. Que ideia.
O fruto do tu e eu é a sombra
Que dança, ou parece dançar.
Já não sei. A esta distância
É tudo turvo. É difícil focar
E dizer claramente que nenhum
De nós é um borrão a matar.

Se quiseres, podes cobrir o caixão
Com dedos e fingir que as bandeiras
Vão dentro. Na realidade serão
Cinza breve que se fará antes
Do osso desfazer os nós da madeira
Escura. Não será estranha
A maquinação do raciocínio.

Aproveita a direcção do vento
E lança as cinzas para que não atropelem
os escaravelhos. E desliga o televisor.
Afinal, o folhetim passa a outra hora.