A lógica do desenvolvimento do capitalismo industrial era de que seria necessário atribuir às pessoas o poder de consumir, e isso conseguia-se retribuindo o trabalho. Seria então de supor que quanto maior fosse o rendimento disponível, maior o consumo e consequentemente mais saudável a economia e o mercado. Não fosse o teor contraditório na génese deste deste sistema e tudo seria perfeito. No entanto, mesmo os mais acérrimos defensores desse mercado e da sua liberdade tornam-se prisioneiros da necessidade constante de reduzir custos. Mesmo que os lucros sejam continuamente crescentes, o mercado representa sempre uma ameaça. mesmo acumulando milhões de lucros é necessário procurar novas fórmulas para reduzir o custo. O capitalismo industrial globaliza-se e procura mão de obra extremamente mais barata no exterior mesmo que isso custe ter de se importar o que antes se produzia. Em paralelo com a indústria, o sector financeiro foi adquirindo cada vez mais poder. Este financia não só as empresas como mesmo os países através de esquemas pouco claros ou transparentes em que as dívidas de uns se tornam mais importantes que as dívidas de outros e se estabelecem padrões de confiança que dita quanto cada país paga pela sua ineficácia de gestão. A determinados países permite-se e incentiva-se que gastem acima das suas posses. A outros corta-se-lhes essas hipóteses balizando ou criando tectos para as dívidas. à medida que as empresas se internacionalizam tornam-se elas mesmas parte do sistema financeiro e engrossam uma nova forma de capitalismo globalizado a que devemos considerar como capitalismo financeiro. Quem manda no capitalismo financeiro? A banca. A banca controla todos os que têm dívida, o que significa grande parcela dos países, a esmagadora maioria dos cidadãos de cada país, e a grande maioria das empresas que são parcela de interesse da própria banca.
A actual crise foi criada precisamente no seio mais profundo das contradições do capitalismo financeiro. A banca vendeu lixo como ouro e depois colheu os frutos disso mesmo. Porque não vemos uma falência colossal da banca? Porque são os cidadãos contribuintes que, através dos Estados, por múltiplos esquemas, vão pagando as falências da banca. um pouco por todo o mundo isso sucedeu dessa forma, incluindo no nosso país. Ao contrário do que anunciaram não se nacionalizou um banco, antes fez-se uma distribuição pelos contribuintes dos prejuízos criados por uma mega-fraude de um banco privado que veio ao de cima precisamente quando esta crise veio à tona.
Os inimigos do Estado recorreram ao próprio Estado para salvar as suas fortunas e para salvar o sistema tal como o viemos a conhecer nestes anos. Seria normal pressupor que, através de uma aposta nos sectores exportadores e também num incentivo ao consumo interno pudessemos dar a volta à crise instalada. No entanto o capitalismo financeiro vê as coisas de forma diferente.
Existe uma elite de governantes e gestores e esses devem ser premiados mesmo quando nos arruínam. E existe a generalidade da população que vive dos rendimentos do seu trabalho e que forma a grande massa que é a classe média e as classes mais baixas, e a esses devem ser impostas medidas de forte austeridade. Os gurus do capitalismo financeiro vêm como necessários os cortes nos salários como se isso não representasse uma contradição à própria essência do capitalismo e um retrocesso para a era feudal. É uma ideia aberrante pensar que um exército de pobres pode consumir mais e mais quando os bancos que antes atiravam com financiamentos para tudo e mais alguma coisa aos olhos dos cidadãos começam hoje a fechar esse caudal irracional e a filtrar quem pode ou não pagar tanta loucura. com menores rendimentos menores serão as possibilidades para pagar as despesas correntes e muito menos para contrair despesas sobre bens não essenciais. Claro que na prática não é bem assim. A lógica do mercado impede que o cidadão faça uma escolha racional. E isso vê-se principalmente quando essa escolha está no campo da política.
neste momento temos países a serem extorquidos por sistemas financeiros irracionais. Fabricar dinheiro e colocá-lo na banca a um juro marginal para depois essa mesma banca decidir segundo critérios obscuros como e a quem empresta e sob que condições é uma forma de colocar a corda no pescoço de países que, tal como o nosso sacrificou o seu tecido produtivo em busca de uma forma de ganhar dinheiro sem fazer rigorosamente nada. Os governos quase desde o 25 de Abril, sacrificaram a nossa produção em busca de quimeras- Somos um país com problemas demográficos gravíssimos e eliminámos grande parte da produção efectiva. Salvam-nos alguns sectores das novas economias, mas mesmo assim ainda com peso muito reduzido. salvam-nos algumas internacionalizações bem geridas e orquestradas como o caso da EDP ou da PT. Mas é muito pouco.
O que o capitalismo financeiro pretende é precisamente destruir o resto da nossa economia subjugando-nos ainda mais aos delírios das vontades de um sistema viciado e podre. Cortes salariais são uma contradição com a própria lógica capitalista mas servem os interesses de uma das partes muito bem, pelo menos a curto prazo.
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