Precisamente há um ano atrás, foi realizada uma paralisação (quase) geral do país. As condições eram então muito difíceis e adivinhava-se que viriam dias de grandes desafios levantados aos mesmos sofredores de sempre. Com o acentuar de uma crise cada vez mais transformada em farsa comunicacional, a farsa de uma ditadura de mercados que consegue sobrepor-se ao valor humano, seja ele individual ou colectivo, passámos em doze curtos meses a uma situação de indigência nacional onde, de forma embrutecida e estúpida, aqueles que entenderam que deveriam ir votar nas eleições de Outubro, mesmo tendo muitos deles carregado com cartazes contra o engenheiro Sócrates, entenderam, votar nos partidos que constituem o actual governo.
Dizia-se em tempos que o”o povo é quem mais ordena”, e isso constituiu um princípio básico da construção tendencialmente democrática da nação, que depressa foi transformada nesta amálgama de revanchismo que nos leva a entender, às gerações descendentes dos criadores de Abril, que estes não passaram de cobardes por não terem feito uma verdadeira revolução e por terem deixado escapar incólumes todos aqueles que durante foram décadas os “donos” do país e os sustentáculos do obscurantismo corporativista de Salazar e Marcello. As eleições de Outubro marcaram claramente a intenção de um povo que, na ignorância, na crença ou na imbecilidade deliberada, resolveram devolver à nação os subprodutos elaborados dos resquícios do bolor corporativista. Porque nunca foi aniquilado o poder político. Porque nunca chegou a ser destruída a sua base económica.
Muitos dos actuais mega ricos deste miserável país, saíram alegadamente de cá sem quaisquer bens. E muito rapidamente o capitalismo fez o favor de dizer que necessitava de um exército de empresários para dinamizar uma economia que, não só nunca foi dinamizada, como acabou parasitada por toda a escola ultra-liberal, que, nunca tendo chegado antes ao poder, chegaram agora com todos os ares de prepotência escolástica apelando à fé irracional dos incautos que caíram no conto do vigário, ou que, tal como ele, vivem parasitariamente às custas de um sistema viciado desde a sua fundação. Tendo assim que, eleições seguiram o mesmo padrão de farsa comunicacional que tudo até então e sacrifícios têm que ser feitos em nome da fortuna crescente dos ricos e do empobrecimento irracional e acéfalo dos pobres. Estas eleições foram um acto tão legítimo quanto a prática de um suicídio que tem moldura penal própria. A elição de Passos coelho foi a negação da eutanásia a um país que ainda tinha inclusivamente solução de sobrevivência, numa prática de sadismo político e de masoquismo eleitoral que transporta estes resultados para um patamar de estupidez tão elevados que as torna ilegítimas. E apenas se pode derrubar um governo ilegítimo levado ao poder pela estupidez das massas embrutecidas por um golpe de Estado que resolva construir 26 de Abril em cima do 25.
Hoje, repete-se então uma greve dita geral, mas que todos sabemos que de geral nada pode ter. Não que haja qualquer intenção nesse sentido, mas porque temos mais de setecentos mil desempregados, e a pirâmide demográfica mostra-nos uma população envelhecida e a caminhar para a reforma – eu acrescentaria para a senilidade. Mas ainda temos de analisar todos os contratos de trabalho que não são, todos os micro-empresários que têm de o ser porque não têm outra forma de sobrevivência senão alimentar uma máquina estruturada para fazer dos milionários mais milionários ainda, sustentados nas ordens secretas e outras putarias do género. Um sector privado onde, ainda antes da greve, já adavam a circular documentos onde se exigia a identificação daqueles que haviam a intenção expressa e fazer greve. E todos sabemos para que efeito. Para ir buscar tarefeiros que se sujeitam ao trabalho mendigo para sobreviver ás custas das indigências dos outros. Há sempre uma orde de filhos da puta mesmo nos meios mais miseráveis e autênticos das classes trabalhadoras supostamente esclarecidas. Os encostados da vida, os lambe-botas de sistema e os indignados de ocasião que votaram nesta solução como poderiam ter votado na bomba atómica que o fim seria menos doloroso. A traição é sempre a pior de todas as canalhices, e nas actuais condições há muitos trabalhadores honestos e conscientes que não podem mesmo, em circunstância alguma, fazer greve. O Código de Trabalho tornou-se numa anedota maior ainda que a Constituição que já foi ignorada e contornada por estes vermes que governam a soldo dos seus manobradores. Andamos a pagar os malabarismos de um sistema financeiro para os quais nenhum trabalhador pobre contribui a não ser no roubo contínuo a posteriori dos seus impostos para colmatar os buracos deixados pelos crimes económicos do Presidente Cavaco e da sua escol a de Economia. Os seus fieis discípulos ocuparam os seus lugares e aprenderam a lição de como aumentar fortunas esvaziando totalmente um país, de dinheiro e do resto de soberania que lhe sobrava… O Presidente das reformas antecipadas, mortes anunciadas de gente que aos quarenta e tal anos de idade se viu remetida para o lixo quando esse energúmeno que representa o próprio lixo, foi sucessivamente premiado em eleições pela escória política e económica que ajudou a parir para este país.
Este dia de 24 de Novembro vai representar mais um enorme fracasso das forças do trabalho porque a luta que empreendem é uma luta sem um apoio consciente da enorme maioria embrutecida da população portuguesa, contaminada por televisões e iPhones, que vivem no ideal ainda dos luxos a crédito impostos pelo próprio sistema para que se possa manter, mas dificultado no dia-a-dia por falta de liquidez de bancos que resolveram brincar aos produtos derivados de produtos que não a passaram de enormes fraudes. Ainda assim, representando o que representar esta greve geral, é bom que aconteça, e esperemos que mais gente de trabalho se junte a quem verdadeiramente os defende. Mas ainda não será desta que a luta sai para além do domesticável. E o sistema sabe muito bem que muitas vezes os próprios sindicatos acabam por ser os domadores de algumas situações limite, tornando-se em ultima instância, cúmplices de um sistema irreformável.
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