quinta-feira, 21 de março de 2013

UMA MÁQUINA DE ASSUSTAR AS IDEIAS


A mulher tinha uma máquina nos dentes. Uma máquina de assustar ideias. Mas dizem que não. A máquina metálica fora-lhe colocada porque nascera de ideias tortas e queria saber de tudo um pouco. Fazia perguntas de forma constante. Agora perguntas metálicas. Queria saber a origem das coisas. De quantos elementos é composto um homem. Mas ninguém anda com tabelas periódicas dentro dos bolsos e muito menos sabe de cor os elementos que existem. A mulher sorria e logo se lembrava que o sorriso demoliria qualquer perspectiva de vislumbre da sua plenitude. a mulher pensara que a sua máquina metálica de ocultar dentes, lhe iria repor a ordem dos pensamentos e ajeitar o reflexo dos espelhos. O brilho, esse haveria de de se retirar directamente para o bolso da bata dos mecânico estrábico e míope. A mulher lembra-se perfeitamente. Como não lembrar. Tinha um BMW, o mecânico das máquinas metálicas dos dentes. Circulava em excesso de velocidade nas contas bancárias. Corrigia as deficiências milimétricas das ideias. Esfregava a mãos compulsivamente como quem pensa sem dizer "vamos lá!" Tinha um BMW no qual, um certo dia levou a passear a mulher. Não a sua mulher. A mulher que nascera e crescera torta das ideias, ainda assim ágil de boca. Haviam falado sobre a beleza. como seriam belas as bocas uniformes de brancura, alinhadas ao gosto de uma perfeição que pudesse aprumar todos os pensamentos, como se fossem estruturas lógicas e sequenciais. A mulher fazia perguntas. Queria saber das coisas. Queria saber de quantos dentes era composta a humanidade. Daria para fazer contas por alto. Os cabelos longos e soltos dançavam já ao sabor da velocidade e as árvores davam as intermitências ao som que o tornava como que um ritmo de dança. Era mais de que evidente, que depois de conhecer o pénis pequeno e torto do mecânico das máquinas metálicas de colocar nos dentes para endireitar as ideias, esta boca tão molhada quando uma esponja que acaba de ser retirada de um rio, iria fazer a derradeira pergunta, a mais valiosa e importante. Depois de engolir de um trago a pasta macia de infectar o mundo de gente, perguntou como poderia alcançar toda a beleza, todo o conhecimento e ter ao mesmo tempo todas as suas ideias de um branco puro.

Dizem que não. Fora-lhe dito que a máquina era uma espécie de passaporte para uma felicidade desconhecida. Quem sempre se questiona não consegue sequer tocar nos rebordos cortantes da felicidade. No entanto, e passados anos o peso da máquina fazia-se sentir como o peso do tempo deve sempre fazer-se sentir a quem dele se torna consciente. As ideias haviam sido assustadas de tal forma que se tornaram como que miragens. A presença metálica na boca nunca viria a disfarçar o sabor estranho e amargo do esperma do pénis torto e pequeno. A máquina tornara as perguntas metálicas, ainda constantes mas metálicas. Era já certo que o homem era composto de muito elementos, mais era estúpido querer saber quais desde que conduzisse sempre automóveis topo em excesso de velocidade nas contas.


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