Deve sempre estranhar quando na sua organização lhe disserem que “estamos aqui para comunicar”. Não que não seja fundamental a comunicação, e toda a gente, mesmo apenas usando o senso comum, compreende isso. Contudo depois as coisas vão aparecendo em formas de encenação de discurso que revela impossibilidades quer teóricas quer práticas, e a grande vantagem é que poucos realmente ficarão a pensar no que está por trás de todas estas necessidades repentinas de comunicação.
A principal contradição apresentada hoje nas organizações é a necessidade de uma reestruturação face a uma polivalência de recursos quando logo a seguir se comunica que a base para o crescimento é a diferenciação face aos outros players no segmento em causa.
A polivalência de recursos é sempre possível até um determinado nível, que será aquele que não seja percepcionado do lado de fora. Trata-se efectivamente de um processo de desqualificação e de desespecialização quando começam a ser evidenciadas as limitações ao nível de recursos. Se atentarmos no facto de ser a especialização e a excelência os principais factores diferenciadores entre organizações que, cada vez mais se assemelham no seu funcionamento e na sua filosofia, temos aqui uma impossibilidade de gestão ou uma prática de comunicação errónea que pode trazer maus indicadores ou ser de facto um aviso à navegação de que existem processos de mudança, mas não se compreende muito bem qual a dimensão e quais os contornos desta.
Isto é claro quando a própria economia está em mudança, quando se pensa que menores rendimentos trazem mais riqueza ou menos gastos às organizações quando não existe sequer a preocupação de entender qual a real parcela de valor que um trabalhador gera enquanto tal, mas também enquanto cliente e enquanto veículo de transmissão a terceiros clientes e potenciais clientes. Não olhar para esta verdadeira força ou subestimá-la, e ainda por cima com uma transmissão de ideias e com lançamento de comunicação contraditória, pode ser significativo quando se compreende a real dimensão das coisas.
Não é possível diferenciar pela banalização ou pela medianidade. Não é possível querer saber tudo de forma especializada porque existe uma impossibilidade intelectual e material para que isso suceda. O caminho de uma polivalência acima do visível ao exterior significa obrigatoriamente uma indiferenciação do trabalho, mas também um nivelamento por baixo nos standards de serviços e produtos, nomeadamente ao nível de know how uqe é atirado borda fora pela sua desvalorização principalmente a nível remuneratório.
Estas formas de comunicar contra-sensos na gestão moderna implicam no mundo empresarial o mesmo que a comunicação política implica na condução dos rumos de um país. E sabemos como, em conjunto, economistas e políticos, têm contribuído para a destruição de modos e standards de vida que até agora era dados como garantidos. O que acontece não é uma falta de rendimento mas antes uma distribuição demasiado assimétrica do mesmo levando a uma concentração numa minoria que tem hábitos de consumo muito específicos levando à destruição de muitos sectores de actividade, ou então à criação de grandes corporações que vão cada vez mais esmagando trabalhadores e consumidores, quer pela via do marketing, quer pela via da perda de direitos e regalias mesmo quando existe uma ilusão de que eles efectivamente existem.
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