num vôo quase caleidoscópico, tenho a sensação de rever-te
e não estás: matéria, despida e iluminada matéria.
como o poder químico dos holofotes, a fórmula final
dos hipnóticos, és o derradeiro sonho.
a viagem escura e guiada aos limites de mim mesmo
em paredes brancas acolchoadas.
os botões grandes e suspensos e o som abafado de um grito
desgrenhado que se encosta à parede e dorme.
vejo-te em tons de dia anterior. numa mistura lúcida
de querer e não saber querer.
comes o diabo amassado em pão, e eu aqui: distante
do teu infortúnio, penso rever-te.
eu, acabado nos dias, gotejado num chão branco,
numa cegueira múltipla.
e não estás senão num cinzeiro vazio com cheiro a mágoas
vertidas no que podias ter sido: fumo denso.
e não te encontras senão na cinza que se fez do tempo
regado de um líquido com nome estranho
que se entranhou em mim como uma sombra no chão
sem pedir caminho ou permissão.
e não estás para além da memória de pele na pele
que ficou atrás de num vulto perdido
de dois, da soma que ousaste fazer quanto todo o tempo
era de divisão. células apartadas.
fizeste de todas as partidas, uma única chegada
mas a outro sítio que não este.
tenho a sensação de rever-te mas estás apenas
no meu delírio mecânico,
numa vertigem espasmódica que ensaio em
convulsões de saudade.
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