segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

No país do Pateta-alegrismo

Há algo em que os nacionalistas e os patriotas têm razão. O povo português tem um modo de ser muito próprio que se distingue de muitos outros povos. E, segundo eles, só por isso merecemos ser um país livre e independente. Isso nem se discute. Claro que merecemos. A questão é saber se isso nos traz qualquer benefício e se nós, enquanto portugueses temos algo a acrescentar ao mundo ou a nós mesmos.

Correm por aí boatos de que estamos mais modernos, mais inteligentes, até mais produtivos. Basta sair à rua por estes dias desta “silly season” de inverno, em direcção aos centros comerciais e tomamos conta dos entupimentos de lixo humano que se conseguem gerar às custas daquilo que faz realmente mover o verdadeiro português. Um conceito, talvez uma ideologia ou uma filosofia muito próprias copiadas das piores experiências mundiais com pitadas das especiarias bem nacionais. O pateta-alegrismo português alimentado pela vaidade, pelo espírito de porco que o português retrai por trás do seu cristianismo militante e borbulhante.

O português que compra e deve porque tem de ter. O verbo ter é o verbo nacionalista. Ter e mostrar. A arrogância de ter, de querer e de comprar, não amanhã, não mediante necessidade, mas hoje porque assim manda a ilusão de ser algo mais que o português do lado. Sempre, mas sempre tristemente solidários com o que menos tem com o sorriso escondido e o punho cerrado, e o pensamento no dia de hoje. É verdade que o amanhã não existe. Por isso devemo-nos entulhar de festas e jantaradas. E muito temos para festejar. Um novo ano que entra com aumentos desmesurados para tudo quanto são bem de consumo essencial.

Claro que essas preocupações não vão estar presentes nas bebedeiras de hoje à noite quando cair um dia e nascer outro exactamente igual, apenas mais caro. São estas mudanças subtis que nos enfiam no rabo a cada ano que passa embrulhadas em papel de oferta e nós agradecemos porque, afinal, vivemos mais um dia, mais um ano.

O pateta-alegrismo nacionalista desculpa toda a corja que nos governa desde sempre porque tudo se desculpa num trago de vinho ou de espumante de baixa qualidade para a maioria que não sabe nem necessita saber exigir melhor. Estamos como queremos, estamos como podemos e sabemos. Estamos como nos deixam estar para estarmos alegres e contentes. Nada como a pobreza, e também a de espírito…

sábado, 15 de dezembro de 2007

Liberalismos

Por razões que não são para aqui chamadas alguém me transmitiu a ideia, sempre acompanhada de factos reais apresentados prontamente, de que a Espanha vive o liberalismo económico de uma forma radicalmente diferente da nossa. Diferente e muito mais inteligente uma vez que os espanhóis são ultra proteccionistas e tudo fazem par aincutir nas pessoas a ideia de que o produto espanhol é aquele ao qual deve ser dada toda a prioridade no acto do consumo.
Muito embora tenha a perfeita noção de que isto é contra o princípio pelo qual a Europa pretende que todos os países se guiem, a Eapanha coloca-se numa posição de mandar este diktat europeu às urtigas e, por isso mesmo, sofre muito menos com a concorrência interna e principalmente com a concorrência externa. Para dar um exemplo concreto, os produtos fabricados na China mas onde a Eapanha tenha uma forte tradição de produção, como por exemplo o sector das ferragens, têm muita dificuldade de penetração no mercado espanhol mesmo sabendo que o mesmo produto (ou réplica) tem um custo de produção, e em consequência disso pode representar uma maior margem de comercialização, que o produto asiático.
Em Portugal passa-se exactamente o contrário. Num país muito mais pequeno e com um mercado muito menos interessante, o que sucede é que o produto replicado dos originais ( na grande maioria de origem europeia ou americana) é muito mais barato, mas ao invés de se aproveitar para trabalhar com margens maiores e portanto mais seguras para as empresas importadoras, o mercado encolhe a margem ao mínimo para que se possa eliminar toda a concorrência interna. Assim, de ano para ano vão caindo por terra projectos empresariais que poderiam muito bem ter vingado num liberalismo à espanhola.
O problema é que já vamos tarde. Quando os senhores que nos governam decidem que nós até podemos prestar para alguma coisa e portanto devemo-nos auto-promover em campanhas de puro e simples insuflar de ego, é quando esse mesmo ego já se encontra furado por todo o mal que lhe foram fazendo todos estes mesmos senhores, não desde o 25 de Abril, não desde o salazarismo, mas desde o nascimento do país. Mas essa mesma história que já nos colocou supostamente numa vanguarda de mudança hoje coloca-nos nos menos dos mais da vanguarda liberal. Dos que servem para servir...