sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Os negócios sem crise

Há dois negócios que nunca consegui encarar como sendo sequer passíveis de existirem enquanto negócios e que se mantêm ou crescem abruptamente com as crises. Um dos negócios é precisamente o dos cobradores "do fraque". Vejam esta pérola da imbecilidade no site de uma destas empresas que deveriam ser ilegalizadas. Os idiotas descerebrados contratados para trabalhar(?) nestas empresas produzem textos deste género sobre as suas experiências de trabalho. O factor humano está morto há muito tempo.

Outro dos negócios que me enoja desde criança (não sei onde fui buscar essa clarividência na infância) é precisamente o negócio da morte e do folclore em torno da morte. Em tempos de crise a morte está mais presente e o negócio prossegue a bom ritmo. O serviço de enterro ou cremação de um morto deve ser um serviço social e não um negócio parasitário de gente decrépita e amoral pago a peso de ouro.

E para 2009...

teremos José Obama e Manuela McCain nesta roda viva de democracia, neste carrocel estonteante de pluralismo. O papagaio e a catatua desta mercearia em vias de encerrar as portas para o Shopping Center global.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Economia para totós… ou será por totós?

Há uns anos atrás O ex-primeiro-ministro Eng. Guterres afirmou categoricamente que estávamos a atravessar uma crise. É obvio que ele queria dizer pura e simplesmente que era um incapaz (como governante, entenda-se). Após esta deserção o país optou por uma nova liderança que anunciava a salvação. Porém, sempre por factores externos, também era diagnosticada a crise e culpabilizado o anterior governo. O primeiro-ministro deixa que se construa o álibi que o salvará e corre desertando para a União Europeia naquilo que prometiam ser o mais honroso cargo atribuído a um político nacional. Enquanto este senhor Dr. Barroso se prepara para participar na fase de conspiração para a guerra com Bush e Blair em Portugal vive-se a mesma anedota da crise mas desta vez agravada pelo facto de ter ficado à frente do governo um homem ao qual foram negadas quaisquer possibilidades de poder alegar que aí estava a crise. Transformaram-no na crise naquele que foi um dos mais tristes espectáculos de cumplicidade entre a sabujice dos meios de comunicação social e uma bem montada estratégia por um lado do partido socialista e por outro dos seus pares do PSD que não podiam admitir um homem como Santana à frente dos destinos do partido e muito menos do governo. Sem o álibi da crise mas com a legitimidade democrática das sondagens da Marktest o então Presidente da República resolve dissolver uma assembleia democraticamente eleita e com uma maioria governamental coincidindo esse acto com a minúscula distância temporal da eleição do futuro líder socialista.

Na campanha eleitoral muito se falou da crise ou crises e muitas promessas foram debitadas em nome de programas que se sabiam nunca poderem ser cumpridos. A comunicação social cilindrou Santana e elegeu ou fez eleger Sócrates.

Desde que o Eng. José Sócrates assumiu o poder não se fala noutra coisa que não a crise. Se é a mesma, se é outra, se os contextos são diferentes, é algo que devemos pensar, mas a crise é o que existe em comum a todos estes os dirigentes porque também comuns são as soluções e as fórmulas apresentadas. O álibi de Sócrates é a crise internacional ajudada a criar por um dos seus antecessores à escala mundial quando decidiu participar em mais um dos cenários de intervencionismo unilateral e imperialista dos norte-americanos. E não bastando tal demonstração de miserável lambe-botismo à portuguesa ainda teve de o promover em território nacional colocando o país numa situação complicada.

O que distingue Sócrates é que ele passa pela apresentação da crise como vítima de circunstâncias que lhe são totalmente alheias para explicar o relativo insucesso das suas aplicações políticas práticas. Sim, eu disse relativo insucesso. Sócrates aparece hoje vencedor dos que, à sua direita, diziam que era uma estupidez o estado ser proprietário da Caixa Geral de Depósitos. Não que ele não pense da mesma forma, mas agiu de forma diferente. Sócrates aparece no actual cenário, um capítulo avançado dessa eterna crise, como um social-democrata reformador e sobretudo como alguém que resolveu apostar em inovações, ou inovação, como queiram. O discurso da crise permanece o mesmo. Está lá a desculpabilização mas estão também outras coisas como a possibilidade histórica de alterar sem grandes protestos, por exemplo, a legislação laboral. As pessoas estão bêbadas de crise, entorpecidas pela Euribor e pelas cartas das financiadoras a pedir dinheiro. O que é certo é que esta crise eterna é uma máquina de criar excluídos. As práticas socialistas deste governo têm diminuído esses efeitos mas a ferida é bem maior que o penso que a cobre.

Segundo dados recentemente divulgados o valor dos imóveis tem vindo a cair de forma acentuada nos últimos dois anos à semelhança do que sucedeu nos Estados Unidos e que despoletou a chamada crise do subprime. Corremos o mesmo risco de pagarmos algo que não vale uma pequena fracção do valor de aquisição e respectiva hipoteca.

Os economistas dizem que tudo está bem. Que é tudo passageiro e que melhores dias já se vislumbram. Outros mais pessimistas dizem que o fim deste processo de crise, a tal eterna crise, ainda não tem fim à vista. Os mais realistas dizem que estamos apenas no início de algo desconhecido mas que pode transformar radicalmente a sociedade. Ora, tam como o socialismo mitigado de Sócrates demonstra cá pelo nosso pequeno país o capitalismo tornou-se invencível e indestrutível pelo que é só uma questão de tempo e, ou estaremos mortos, ou saídos da crise. Na perspectiva mais realista, se não mortos continuaremos na mesma crise com outros protagonistas. A crise faz parte do processo. É uma espécie de betão que estanca as feridas do capital.

Quando os gigantes do capitalismo começam a despedir em massa continuamos sem ouvir ou ler sobre milionários que ficam miseráveis. Os economistas resolveram reinventar Marx precisamente para salvar o capitalismo, os capitalistas e sobretudo o principal, o capital. Esses economistas até ontem neo-liberais até ao osso hoje são keynesianos e foram lamber os restos do marxismo na intervenção do estado não onde Keynes a previa (absorvendo os restos humanos, as sobras humanas que o mercado não quer) mas antes redistribuindo a riqueza (ou a dívida) dos povos e dos estados pelos milionários do sistema financeiro que, por sua vez, é suposto financiar a economia. Aquilo a que já se chama de Socialismo dos ricos ou o salvamento do credor e não do devedor. Devedor esse que é precisamente a matriz do desenvolvimento do próprio sistema capitalista.

O mercado de capitais está a experimentar momentos complicados, à semelhança de outras alturas. Estas crises são cíclicas. Talvez por isso ouvi com relativo interesse um debate para totós sobre economia na RTP-N que terminou de uma forma espantosa. O apresentador pergunta aos entrevistados se este é o momento ideal para investir em acções. A resposta é clara. Sim, este é o momento ideal se tivermos pelo menos dez anos para esperar pelo retorno e soubermos investir de forma dispersa. Por momentos relembrei muitos dos textos que tenho vindo a ler dobre a matéria e voltei à realidade de que aqueles senhores são economistas. À semelhança da estupidez do comentário de Constâncio sobre a saúde financeira de dois pequenos bancos levando a um levantamento enorme de depósitos do BPN obrigando este banco a recorrer a um empréstimo da CGD, a mesma estupidez é demonstrada pelos economistas em questão. Em primeiro lugar é necessário cair na realidade de que as poupanças dos portugueses muito reduzidas e que o nível de endividamento está já em níveis incomportáveis. Se esta é uma boa altura para o investimento na bolsa não o será certamente para quem não conhece sequer a palavra investimento pois não lhe é apresentada outra fundamental que é o rendimento. Não menos de dez anos é o que prometem estes senhores para um retorno razoável de investimento. Seria bom se a vida humana fosse eterna ou se houvesse dinheiro a rodos para sustentar esse parasitarismo financeirista.

domingo, 19 de outubro de 2008

E há realmente uma escolha?

Agora que se aproximam as eleições americanas é necessário entender como funciona esta máquina de brincar às democracias e de queimar dinheiro em nome de interesses ocultos e obscuros. Muitos defendem que os EUA são uma democracia mas escondem como tudo se processa ao ponto de darem a entender ao público que os americanos realmente escolhem seja o que for no processo eleitoral para a presidência. O que se tem visto é que cada candidato do partido único com duas cabeça à direita e à extrema-direita a que decidiram estupidamente chamar de “democratas” e “republicanos” atira contra o outro todos os argumentos possíveis e imaginários de campanha suja criando a ilusão de divergência onde mais concordam. Mas a verdade é que os EUA não são o país mais importante do mundo. São um império forçado militarmente de mentiras. Começando obviamente pelo sistema político que anula as alternativas quando pretensamente é o símbolo da democracia. Se a democracia é escolher de quatro em quatro anos líderes embrenhados em campanhas milionárias, iguais entre si, que anulam a possibilidade de outras escolhas à partida então a democracia burguesa atingiu finalmente a sua última etapa, a da ditadura travestida de democracia. Viver na liberdade a mais humilhante prisão, da ignorância e da estupidez.

Para que votam então alguns americanos? Algum, porque o número de votantes é escasso tendo em conta a população do país. É fácil compreender no final deste texto porque não votam os americanos. Mas os que votam fazem-no com a consciência de que escolhem um presidente?

Os eleitores não votam para o presidente dos EUA. Em primeiro plano há que compreender que para exercerem o voto os eleitores têm de ser reconhecidos como tal. Ao contrário do que conhecemos no nosso país, nos EUA são os eleitores que têm de se registar para votar a cada acto eleitoral. Normalmente os eleitores autopropõem-se como tal através de campanhas de recrutamento pelos dois supostos partidos americanos. O eleitor pode apresentar-se ou propor-se como democrata, republicano ou independente (?) no acto do registo. O registo pode ser feito por uma infinidade de formas. Basta procurar na internet e veremos milhares de páginas com formulários que conduzem ao registo de eleitores partidários ou independentes. Em suma, para que possa votar (o que cá é considerado um direito) o cidadão americano tem de propor-se pelos seus meios tendo de partir da sua iniciativa ou do acompanhamento partidário uma vez que o eleitor se propõe como apoiante do partido democrata, republicano ou independente. Os dados deste processo anedótico de recenseamento estão disponíveis à data das eleições para que se compreendam melhor as circunscrições eleitorais. Ou seja, não exista surpresa na realidade.

Salvo raríssimas situações previstas na lei, o voto em Portugal é universal. Nos EUA existem estados onde sujeitos que estiveram presos jamais poderão votar. No entanto na maioria dos estados esse direito é negado a quem esteja preso ou sob qualquer forma de liberdade vigiada ou condicionada ou por ter um antecedente criminal de delito grave. Mais interessante é que em alguns estados procedem a uma limpeza dos registos eliminando nomes que são idênticos ou muito parecidos com nomes de condenados com crimes graves, presos ou em liberdade. Este processo é feito por empresas informáticas especializadas e próximas dos partidos do sistema e tem como objectivo reduzir ao mínimo possível os votos das minorias, nomeadamente a comunidade negra que vota tendencialmente mais pelos democratas. Nesta eleição que se aproxima a questão coloca-se mais do que nunca uma vez que pela primeira vez aparece um candidato mestiço e com fortes probabilidades de ganhar. Será por isso que se vem ouvindo crescentemente nos comícios republicanos expressões como “arranquem-lhe a cabeça” ou “matem-no!”. Sendo semelhantes entre si os candidatos nas questões principais o candidato republicano não consegue ver sequer o seu opositor como seu igual.

Não é compreensível como num país desenvolvido existem incontáveis irregularidades no processo eleitoral, com supressões deliberadas de votos, com fraude e manipulação no processo electrónico de votação e fraude constante na votação por correio. Os sistemas de votação electrónica têm vindo a substituir os métodos tradicionais. Cada estado, e dentro deste em cada condado é que decide qual o método a utilizar para o voto que pode variar entre as formas mais estranhas como por exemplo cartões perfurados.

A questão central é precisamente o objecto do voto. O presidente não é eleito pelos eleitores. Estes votam para um colégio eleitoral formado por criaturas sinistras que ninguém sabe quem são nem de onde vêm e muito menos ao que vêm e são estes que elegem o presidente. Esse colégio eleitoral de “electoral votes” ou votos eleitorais, decide quem vai ser o próximo presidente. Contudo, na grande maioria dos estados (excepção feita ao Maine e ao Nebraska onde é usado o método de Hondt) é usado a regra maioritária onde o partido com mais votos leva todos os representantes. Não existindo proporcionalidade é negada a possibilidade de existência de outras candidaturas. No entanto é mesmo esse o intuito. A bipolarização não é mais que fachada uma vez que republicanos e democratas são duas faces da mesma moeda como em qualquer sistema totalitário. Os cidadãos votam em fulanos que desconhecem e em quem acreditam estar bem depositada a sua vontade embora nada os obrigue a cumprir o sentido de voto de quem os elegeu.

A democracia tal como a devemos entender deve ser regida clareza do sistema político. Este não é nada claro. É mesmo muito sombrio. Numa época de crise, dizem mesmo a maior desde a grande depressão estão a ser disputadas as eleições mais caras de sempre. São milhões de dólares que servem para empobrecer o sistema político e que terão de ser mais tarde retribuídos a quem os financiou. O sistema está preso por milhões à grande finança para que depois, em momentos de desespero e falhanço o estado intervenha para a salvar tornando este ciclo no mais ruinoso ciclo político na história da humanidade. Este é, sem sombra de dúvida o mais podre império de todos os tempos.

Um pormenor curioso é o facto insólito de as eleições se realizarem sempre a uma terça-feira quando a grande maioria das pessoas estão a trabalhar e muitas vezes fora das suas circunscrições eleitorais. Será fácil entender as abstenções superiores a 50% e o facto de um em cada quatro americanos dizer não acreditar no sistema político do seu país? Não seria de terem em consideração um sistema de sufrágio universal? É evidente que não. Este sistema permite a manutenção automática do poder dentro do totalitarismo bicéfalo da política americana.
As campanhas eleitorais são disputadas fundamentalmente através dos meios audiovisuais pelo que representam um grande negócio para os designados “media” nas mãos das mesmas corporações que “doam” para ambas as campanhas.

E para culminar, por norma os candidatos têm vindo a tornar-se cada vez mais burros e estúpidos, mais acéfalos, mais patriotas e religiosos, mais despesistas, mais liberais ou mais conservadores. Têm-se feito rodear sempre da pior escumalha à face do planeta.

Remato os votos sinceros para a vitória de McCain pois parece-me o caminho mais curto para a destruição dos EUA enquanto império e para a sua desgraça económica e militar.

Como o revivalismo nos pode salvar do lixo futuro

Esqueçam, o tema comprido é apenas para enganar. Queria apenas fazer uma referência agora que o negócio de alguns trouxe de novo à ribalta os suecos ABBA. É que eu gosto daquele pop rafeiro e de vez em quando ainda ouço aquelas maravilhas sem algodão ou cotonetes. Gosto muito do "The visitors" ou da melodia ingénua do "Arrival". Hoje já não se faz merda com aquela qualidade.

sábado, 11 de outubro de 2008

Nos piores momentos, as piores ideias

Hoje foram chumbados na Assembleia da República duas propostas que visavam a possibilidade de casamentos civis de pessoas do mesmo sexo. Felizmente essa lei não passou e infelizmente a esquerda política foi quem trouxe à baila este tema quando atravessamos um momento em que temos temas muito importantes sobre os quais temos de reflectir. No entanto, e como nada vem por acaso será importante esclarecer porque motivo não consigo compreender particularmente o voto do PCP nestas propostas.

Em primeiro lugar a “instituição” casamento tem uma origem religiosa. A lei, com as várias mutações que sofreu ao longo dos anos e dos regimes conferiu-lhe um certo enquadramento que só pode ser entendido como um contrato conjugal.

De há uns anos a esta parte foi também criado um outro contexto que considero de muito maior importância na sociedade actual, o de “União de facto”.

Casamento e União de Facto são duas realidades diferentes porque representam logo à partida uma diferenciação legal em matérias como direito de sucessão por exemplo. No entanto, e dado que vivemos num país laico, a União de Facto deveria ter-se desde logo apresentado como uma alternativa que pode ou não (consoante vontade dos intervenientes) ser comparado juridicamente a um contrato matrimonial sem que exista formalmente um acto civil.

A limitação atribuída à opção da União de Facto impede que a sociedade se liberte do casamento não só como instituição religiosa mas como contrato civil. Os direitos e deveres desta “instituição" não são traduzidos para a UF como deveriam ser caso fosse essa a vontade dos intervenientes sem lhes exigir o folclore religioso ou legal.

Assim sendo, entendo que uma sociedade laica deve dar a opção do casamento religioso a quem professe uma religião qualquer (reconhecido de forma automática a nível civil), do casamento civil a quem entenda que deve ser formalizado um contrato matrimonial mas também deveria dar a opção aos casais em UF de terem regimes idênticos a todos os níveis ao casamento sem a formalidade do acto ou a opção do presente contexto limitativo das UF.

Perante as propostas de lei apresentadas hoje à apreciação do parlamento parece-me que é pretendido para “pares” de pessoas do mesmo sexo o regime do casamento civil ignorando que já podem ter os regimes das UF. Perante isto fico com a ideia de que a sociedade em geral quer continuar a descriminar as pessoas que decidem não querer celebrar contractos de casamento formais tanto que os “pares” homossexuais se vêem na necessidade de recorrer à única figura legal que lhes permite terem direitos semelhantes aos dos casamentos. Casamentos, entenda-se de heterossexuais porque outros não são permitidos. Essa é a raiz da descriminação.

Sendo politicamente incorrecto não entendo sequer como lógicas estas propostas. Nada vejo de benéfico num contrato de casamento. Não altera ou não acrescenta nada de novo às pessoas apenas lhes atribui um conjunto de direitos e deveres consagrados numa lei algo retrógrada. E não vendo nada de positivo no casamento apenas o consigo entender nos tempos modernos como rituais de puro folclore religioso ou legal. Sendo mais politicamente incorrecto não vejo como pode uma sociedade permitir que se normalizem e se formalizem relações homossexuais como sendo normais dentro de “instituições” que foram geradas em contextos fundamentalmente religiosos. E mais além não vejo porque motivos estarão interessados os “pares” homossexuais em entrar nesses mesmos processos ritualizados quando estes representam a contradição e a negação à sua própria condição. Senão vejamos as posições que as igrejas diversas têm sobre este tema.

A palavra casamento é o ponto de discórdia principal aqui. Este representa um determinado contexto que não pode nem deve ser alterado. Pertence a uma cultura, é uma referência cultural e civilizacional. Se copiarmos o texto de lei e o colocarmos nas UF deixa de tocar nessa ferida e não creio que retire qualquer ponta de justiça ou igualdade seja a quem for.

Mas a questão ainda pode ser vista mesmo pelo prisma da igualdade. Os “pares” homossexuais pretendem essa igualdade? Como se manifesta no dia-a-dia essa pretensão, nas marchas folclóricas realizadas justamente para afirmação e diferenciação de uma comunidade que tende a ser muito elitista e muito dominadora em certos aspectos?

A recusa pura e simples das duas leis postas à discussão, parece-me ser a posição mais acertada. E acredito que o PCP de outros tempos o teria feito sem hesitar. Hoje, a luta cerrada com o BE por uma ideia de esquerda moderna parece-me que pode estar a causar algumas estranhas reacções e posições do partido.

Quanto à questão da possibilidade de adopção contida na proposta do BE penso que nem sequer deve ser tida em conta. Não deve ser discutível e deve ser travada a todo o custo. A nossa sociedade já está mal quanto baste.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

IVA com recibo

Mesmo partindo esta ideia da direita política há muito que tenho vindo a escrever sobre este tema. portanto só fica bem juntar a minha voz a algumas que apareceram a pretender alterar a forma como é processado o pagamento do IVA.

A questão é simples. Presume o estado que a uma factura corresponde um pagamento e perante isto exige que ao fecho do mês ou do trimestre (consoante o tipo de regime escolhido) a empresa tenha de liquidar o IVA constante nas facturas emitidas. Acontece que os pagamentos podem se rmuito posteriores (ou mesmo até nem serem efectuados) à data da emissão da factura. Tal como já sucede em alguns países a melhor solução para melhorar a liquidez das pequenas e das médias empresas (as mais afectadas pelo problema) será justamente a cobrança do IVA pelo recebimento e não pela facturação tornando o recibo e não a factura no documento central do negócio em causa.

Não se trata de uma questão ideológica mas de uma contradição contabilistica. No entanto é preciso termos em atenção o facto de que o princípio gerador da falta de liquidez das empresas é justamente o terrível hábito português dos pagamentos a perder de vista mantidos pela grande maioria dos empresários portugueses.

Entre o inferno e a salvação...



A imagem tem 33 anos e representa o momento histórico da nacionalização da banca portuguesa pouco depois do 25 de Abril, de forma a assegurar que este sector terminasse com a sabotagem sobre múltiplas formas à economia nacional então em processo. As movimentações da banca tinham a intenção clara de inviabilizar a evolução política democrática pelo seu comprometimento com o anterior sistema e com as oligarquias reinantes.

António Borges, uma das mais importantes figuras da opinião económica e do PSD actual defendeu há poucos meses que deveríamos caminhar para a privatização do único banco do estado, a Caixa Geral de Depósitos. Ainda não se conheciam os acontecimentos últimos desta crise que agora assola os mais desenvolvidos redutos do neo-liberalismo. Esta ideia vem na mesma senda dos crimes económicos cometidos quando se privatizaram companhias como a Galp, a EDP ou a PT. Vem sobretudo em contra-corrente com a pouca-vergonha das soluções apresentadas para conter a sangria da actual crise financeira. No mesmo caminho que leva os contribuintes das nações mais afectadas a pagarem duramente a factura da irresponsabilidade criminosa de alguns no sector e de muitos na política. E, pasme-se, aqueles que tiveram as mesmas linhas de pensamento que este prestigiado economista.

Relembrar as nacionalizações de há 33 anos em Portugal serve apenas para ilustrar como aquilo que os ultra-liberais apontam como tendo sido o responsável pelo atraso do nosso país serve hoje de ferramenta para salvar o próprio sistema capitalista. Mas mesmo isso pode não chegar. O caso da Islândia é disso um exemplo. É o próprio estado que se encontra falido. Como é possível suceder uma crise desta envergadura num dos países mais ricos do mundo? Pior do que tentar chegar a uma resposta breve e simples é tentar compreender como é que pode a contracção de mais uma dívida perante a Rússia pode trazer a solução ao problema deste país.

Chegámos ao ponto em que temos de compreender que não podemos andar uma vida inteira a parecer algo que não somos. A viver bem às custas de um endividamento que nos pode cair em cima a qualquer momento ceifando-nos toda uma vida de trabalho e de esforço. Temos de compreender que, aconteça o que acontecer os responsáveis por toda esta confusão nunca serão sequer beliscados por esta crise. Os contribuintes pagarão a manutenção das suas fortunas. Aliás, é de pensar porque já se falam de tantas falências e de algumas “nacionalizações” de instituições financeiras e não se ouça rigorosamente nada sobre ricos a ficarem pobres. Nem vai suceder porque estes pobres, mas sobretudo as camadas intermédias, irão providenciar a manutenção das suas riquezas através destes processos fraudulentos de nacionalização que não são mais que o absorver das dívidas nas contas do estado para salvaguardar os interesses dos especuladores e das grandes fortunas.

À semelhança do que aconteceu no Portugal do pós-25 de Abril em que, no dia seguinte toda a gente passou a ser revolucionária até ao osso, mesmo os que sempre dormiram com o regime Salazar-Caetano, hoje todos os liberais escarnecem o neo-liberalismo e que sempre foram pela regulamentação dos mercados. Não nos iludamos. Os novos esquerdistas e direitistas com discurso de esquerda são da mesma laia que os que saíram do MRPP para a liderança da política e da intelectualidade de direita no Portugal actual. Eles sempre quiseram tudo desregulamentado e entregue aos mesmos patrões de sempre, os seus ou melhor ainda, eles mesmos.

Estes são os senhores que nos querem fazer crer que as nacionalizações do 25 de Abril eram más mas que as actuais são boas porque são a tábua de salvação do próprio sistema financeiro. Os mesmos que venderam por valores ridículos aos privados empresas públicas lucrativas e algumas delas monopólios. Os mesmo que sempre têm feito um finca-pé ideológico contra o intervencionismo estatal.

À esquerda tem de haver uma postura forme de salvaguarda da identidade ideológica da diferenciação entre os processos de nacionalização e o actual processo de fraudes de nacionalização de dívidas absorvendo no estado os falhanços e os irregularidades e irresponsabilidades assumidas pela alta finança e pela política sempre cooperante e conivente. A esquerda tem de manter firme a ideia de que a banca e os seguros têm sempre de ter uma âncora firme no estado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O debate mais estúpido do mundo

Acerca deste segundo debate entre os dois candidatos à presidência dos EUA e segundo um dos comentadores da CNN (não sei quem porque me pareciam todos iguais) McCain prometeu pagar as casas de toda a gente e Obama prometeu cuidados de saúde para toda a gente, o que é bom para um país que se encontra falido. A expressão é dele. A realidade também.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Não fora a mão protectora e o capitalismo um destes dias acordava morto

Cada dia que vai passando sobre este carrocel de acontecimentos respeitantes à crise financeira vai-nos dando uma imagem mais real e mais tenebrosa quanto às causas e consequências de tudo isto. Mais preocupante é termos a noção que as soluções apresentadas são apenas e só a potenciação dos factores de crise. A manutenção da desregulamentação e a injecção de capital onde ele foi suprimido por manobras criminosas. Um sistema político e económico que tem como base da sua propaganda o sucesso e a eficácia premeia justamente os mais capazes desta espécie de Darwinismo económico. É que os mais fortes são sempre os que sobrevivem mesmo que as estruturas que criaram e mantiveram se desfaçam em pó. Desaparecem as estruturas empresariais mas o capital não se move das finanças pessoais de cada um dos criminosos dos movimentos de capitais. Não fora a mão protectora dos políticos cobardes e cumplices e o capitalismo um destes dias acordava morto.