quarta-feira, 20 de novembro de 2013

.




domingo, 27 de outubro de 2013

.




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

.

lavei-me de ti antes da alvorada
e saí no silêncio quebrado apenas
pelo tic-tac de um relógio
que há muito julgava parado.
fingias dormir do mesmo modo
como eu fingira estar nesse
equilíbrio de mentiras entre
dois corpos despidos.

sábado, 14 de setembro de 2013

sei

sei, que qualquer dia a partir de há trinta e oito anos atrás, é tarde. é tarde para partir ou rasgar. ou verter. ou regressar. é tarde. sei, que há na espera a lonjura de todas as ânsias a cavalgar em conjunto, e que o tempo galopa ao nosso prazer e jaz num gozo cruel ante todo o sofrimento que podemos ter. sei que qualquer dia é sempre um dia a mais. qualquer dia é um corpo prometido à decomposição e uma mente já entregue: rendida. que bom fora que um rio me houvesse levado há trinta e oito anos, em sangue e poucas lágrimas. ou que o esperma nem sequer houvera o desplante de fingir-se amor e entrar dentro da casa provisória que acolhe toda a vida em potência. uma casa ocupada. assaltada como em dias de revolução ao contrário. sabemos como ninguém que amor é aquilo que chamamos às coisas podres. é aquilo que fazemos quando a verdade nos falha. quando já não podemos conter o riso histérico por nada. uma falha sísmica entre a ordem e o caos. é tarde para que nos digam "o que andas a fazer" e nós "nada". se o sentido é não o haver. como a natureza a bolsar imperfeições e a crescer de qualidades cantadas. a natureza. é tarde. é um engano, somente. um engano.

;

sei, que o que sei me foi trazido nas asas de um pássaro morto ao colo de um caçador de gente. vestido de preto. sei que estava vestido de preto na noite e como a noite. sei que cintilavam nos seus olhos pirilampos de angústias. um só tiro. apenas um retiro. apenas uma forma bélica, uma bala trespassada e a respiração interrompida. um zunido mecânico e pontiagudo. um vértice sobre as nuvens a pairar sobre a linha do horizonte. o pássaro morto. negro e rubro. asas e sangue de carne, seco. seco, o sangue. frias as carnes. e a bala na mão. os olhos no chão. todo o conhecimento. tudo o que sei. erguer-se-á um qualquer túmulo ou far-se-ão cinzas dos restos. quando os restos são o caçador e não a caça. quando os restos estão para lá da mão que agarra e dos olhos que parecem esconder todas as noites. a cabeça de um homem é uma síntese de todas as noites do mundo. e chove. está um verão a chegar ao fim e relampeja por cima de nós. a luz intermitente que incendeia a bala de quando em quando e assusta as anciãs que desconhecem as letras. sei, que as velhas foram caça. um dia foram caça. não caíram como pássaros moles abocanhados por perdigueiros obedientes. as velhas, foram elas mesmas, perdigueiros obedientes, e em simultâneo a caçada. sei que foram tempos. outras caças, tantos tiros. tantas quedas abruptas no chão seco ou molhado, tanto fazia se havia se havia chão onde cair. talvez o pássaro de sangue encrostado fosse ontem a morrer sobre hoje. talvez o caçador um bigode desfeito em gravata. talvez um orador em palestra infindável sobre o estado das armas de caça. talvez somente um gatilho.

;

sei. um jogo de labirintos impenetráveis. a urgência na forma de um sopro sobre um corpo esquálido. a fortuna e a miséria a conviver no mesmo lado. a servidão das horas em redemoinhos. sem solução à vista. um ser só e sem membros. sei que os seres sós são desprovidos de bem mais do que membros. são desprovidos dos próprios seres sós. clamam por desafios. fazem de toda a insensatez um novelo de desafios. conceitos vagos que não amortecem nenhuma queda.

;

a solidão é o circuito da mente. o estado natural das coisas quando crescemos, naturalmente dotados de um formato do eu que não suporta senão o seu estado de constante exaltação. fazem-nos exaltação através da usurpação de tudo quanto temos em nós que nos faça "plural". e por isso a queda. todo o ser singular, no desespero inconcebível e imperceptível do seu abismo, é um ser em queda. por isso, uma razão entorpecida em químicos de fórmulas complexas faz do sono a cama de espinhos que se nos aparenta seda. por isso, nos encantamos com todas as coisas que anulam em nós a capacidade de encantamento com todas as pessoas. por isso, nos encantamos com as pessoas que fazem do nosso caminho um funesto desfilar de sorrisos doentios. incontroláveis. furiosos. sendo a capa de todas as mutilações, colorida e vibrante. caleidoscópica. no interior, apenas esta densidade negra de nós mesmos, crescendo para a solidão com ou sem a consciência de que toda a exaltação sendo vã, é caminho de sentido único. aos poucos somos as peças electrónicas obsoletas das quais nos desfazemos. sei. ou cuido saber.

;

sei. que um acordar diferente pode ser ao mesmo tempo um adormecer de tanta gente, como que um universo de clorofórmio aspergido sobre as cabeças que se vêem como formigas tontas e sem destino, desgarradas dos seus pares e do seu propósito. a sobrevivência veste-se nesta manhã, de mentira como palavras estruturadas em relatórios infindáveis. uma contagem de mortes. um desprezo de vidas. uma estória para contar a todos os dias que se seguem depois do dia em que se temia não haver mais dias para contar. cada um morre primeiro dentro de si mesmo. depois então, num fósforo de tempo ou em passada lenta, dissolve-se na evidencia de que o fumo jamais teve um fogo ateado. os contadores de estórias escrevem-nas, polidas e escorreitas na história das coisas e ficam lá, quase que para sempre, pois o sempre é a parcela que apenas temos em nós como tumor do nosso pensamento, ou pior, do nosso desejo. ficam lá até a lógica dessas coisas ser maior que a sua medida nos relatórios, mas sempre menor que a dimensão do comportamento mesmerizado dos corpos. hoje é dia de comprar qualquer coisa novo. hoje é, afinal, o dia da obsolescência das ideias. o dia em que a morte se torna tão banal que a contagem dos corpos nos faz esquecer que nas escolhas, tantas vezes, povos inteiros se suicidam e incendeiam os irmãos. espetam-lhes as estacas. fundem-nos com a sua dimensão menor de leitores de relatórios. de eleitores do segredo que nunca os consumirá. será branco, como o nevoeiro cerrado sobre o rio das trevas. será essa passada a compasso, como marcha militar onde a vida se resguarda, sobrevivente, em todos os critérios da sua extinção.

;

sei cantar amanhãs quando os dias não medram porque plantaram pedras em cima da semente dos dias. e pouco mais sobra que linhas escritas sobre a espuma regurgitada pelos aviões que acasalam com os pássaros. amanhã nem sequer é um dia a sério. amanhã é uma ideia vestida de tantas coisas como a crença que se veste de seres luminosos e milagres. olhar o amanhã no respirar ansioso por mudanças, por que tudo seja a diferença de nós somados a todas as circunstâncias, diminuídos de todas as limitações. uma luz que nos trespassa quando apontamos de forma acusadora o dedo aos astros, os interlocutores que conhecemos do nosso pretexto para irmos ficando. ficando a apodrecer num tempo esgotado desde que se anunciou a fatalidade. é uma criança. não, é um cadáver por vir. é a flor de todas as intempéries.

;

sei. potenciais cadáveres a cada instante. os que empurram o mundo com a barriga, e sorriem com cara de vómito ressequido. como se o mundo fosse um misto de quintal e de palco. vaidades tais que, sei, serão do mesmo fim. um dia, perdendo a compostura que aprendemos nas mais diversas morais, faremos dessa barriga um jogo de tripas sem recomposição possível. no fundo, tornaremos as tripas mais parecidas com a mente retorcida dos fanfarrões, e brincaremos com elas à justiça feita sobre os que nunca puderam sequer espreitar o conceito.

;

não me escondo da sombra do que sobra do mistério. como a vida a escoar em ralo lasso por entre as intempéries da ideia. talvez o mistério seja apenas um resíduo inerte e inócuo da minha passagem, diáfana, sem um propósito mas com um caminho sulcado sobre pedras de toque dos sonhos. ora construídos, ora dilacerados. nunca cheguei ou chegarei a ser aquele que se destaca no silêncio dos dias, e no quase infinito ruído de todas as outras sombras. as outras sombras que, disfarçadas de luz, me tentam anular.

;

não é possível anular o que não é.
não sei.

.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

dormir no bico de um pássaro morto

fetiche. quero e desespero. acendo cigarro.
não fumo. desisto de procurar no fundo do poço,
a virtude. o entrelaçar de dedos. paciência.
os passos são dados sobre os taipais das obras
em torno das quais chovem pássaros de todas as cores
e cantam uma melodia disparatada.

a tarde cai sem pressas e não abona
em favor da imagem projectada
nos espelhos que são janelas de edifícios altos.
como os saltos. como as pernas. como a voz que
do outro lado do mundo adivinha o passo.
não é culpa. a culpa é um dos pássaros cantantes
morto depois de rodopiar e embater contra o seu
próprio reflexo. o pássaro está morto. finalmente solto.

as obras foram esquecidas. cheiram ao esquecimento.
a todos os tipos de esquecimento. como se esquecem
corpos velhos enrugados em torno dos quais
nem os abutres soltam gritos de matar fomes.
os pássaros como que ensaiam uma melodia funesta
e disparam sortes que trazem nos bicos.
os saltos altos e o cigarro apagado. não fumo.
desço ao fundo do espaço e sou vestido de lábios
antes de pensar porque terão interrompidos as obras
porque cantarão ainda os pássaros e consigo ouvir
daqui. como crianças que choram. não gosto de crianças.
as crianças choram, não cantam nem sequer
as marchas fúnebres dos corvos desafinados.

[a noite que nos inundava, e os berros lancinantes
um queixume de constâncias e a fome.
os seios de outra boca. e o silêncio que não há.
quero ler. quero ler em silêncio. quero o regresso
do tempo em que o corpo era o meu único altar.
a multiplicação de lágrimas indecifráveis.
maléficas. um redemoinho de cinismo
de pernas e braços tão pequenos. um choro constante.

a fuga. o único altar que se desfaz
quero e não posso comer. comer-te
no silêncio da noite. no teu próprio grito.
quero ler e reler as formas de todas as frases
de todos os livros que me enganaram de forma vil.
o choro é uma merda. quero comer. quero dormir.
como dormir se há meses o sono é sonho acordado.
como dormir se não me lembro de estar dentro de ti.
quero foder-te como se o mundo fosse despido de
crianças. como se fossem todos nados mortos
e o meu mundo feito de saltos altos
dentro de ti em todas as manhãs]

num esgar habitual, trejeito genético
expulso os pássaros num gemido só, bem alto
da cave húmida, dentro de outra cave húmida.
não sei porque terão abandonado as obras.
tal como eu, cheiram a esquecimento
e pagam pela liberdade num canto oculto qualquer.
fetiche. as escadas subidas devolvem-me a luz
aos olhos cansados. será desta que irei dormir
ainda que no bico de um pássaro morto.

camilo: um homem livre

o homem livre chora porque quer ser ainda mais livre. viver naquela liberdade funda, bem funda no conceito que lhe rasga a garganta a cada palavra de ordem gritada bem alto. bem alto para que se projecte a voz nos edifícios antigos da cidade. mas o choro é grito aflito de ódio disfarçado de moral. um ódio que engasga a cada passo. e de quando em quando um gole de cerveja que escorrega como uma revolução no estômago. uma síntese entre o pensamento e a necessidade da alavancagem química da ideia. e que bela ideia essa utopia que entope as artérias de raiva. o homem livre que quer ser mais livre, sabe bem que nunca foi livre. sabe mais do que isso. nunca foi homem. sabe para lá de tudo. nunca lhe foi permitido pensar para além da liberdade. e que mais querer que ser livre numa terra de gente livre. o que querer mais que uma vida recheada de vozearia e braço no ar em busca de algo que deveria ser o acrescento de liberdade à liberdade que está projectada como antítese da possibilidade na sua vida. a palavra de ordem ecoa nos velhos edifícios à mesma velocidade da construção do mundo. e, no entanto, ele destrói-se.

ao descer a avenida, camilo tropeça nas suas próprias ideias a borbulhar,

talvez um dia esta merda ande. mas reunimos ontem. reunimos hoje. amanhã. os dias que forem necessários. o mundo acordará de um pesadelo... ninguém trouxe o feijão, foda-se. nada se consegue organizar sem organização, entendem?

mas não seria suposto não termos qualquer organização. não tens feijões come lixo. não tens lixo... a sociedade recolhe até os seus restos. por vergonha. é uma sociedade com vergonha até dos seus próprios restos. cada um que faça o que entender. não somos livres e tu sabes disso. e de tanto saber queres organizar outra forma de prisão?

camilo regressa à palavra de ordem. a palavra contra o sistema. e o sistema, seja lá o que isso for, pariu camilo naquela mesma rua há vinte cinco anos atrás quando a sua mãe, sem dores nem sinal, lhe deu ganas de fugir do mundo. mas o que tinha era um pequeno mundo a querer escapar ao seu universo húmido por entre as pernas. camilo nasceu a berrar palavras de ordem no meio da rua com a assistência da senhora que passava e que tinha na vida o ofício clandestino de cortar as vidas, ou os males das vidas, pela raiz da existência.

já está cá fora. nunca se viu tamanha vontade de sair ao mundo. e como berra. será livre. tão livre como todos os de caxias ainda há pouco no tempo. o sangue lambe a pedra da calçada. maria pegou no nascituro camilo pelas pernas e deixou-lhe vermelhas as nádegas. já havia chorado, mas aquela, disse a senhora, era por tudo quanto havia de vir.

ninguém trouxe feijão. eu disse: feijão. parece que querem mudar o mundo sem feijão. sem voz. sem palavra de ordem. não queremos quem nos comande. queremos quem nos dê feijão em troco de uma moral. percebes, foda-se?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

retrato de uma sombra

sou de um tempo sem momentos.
um tempo sem momentos em que
do escuro se soltam gritos
debaixo das pontes. e as pontes
forram homens que se fizeram grandes
e quiseram unir margens de si mesmos
tornando-se rios. um tempo com rios.

pensavas de mim que eu era
tudo o que parecia ser quando escrevia
que os sonhos realizados em estanho
se fundiam nos murmúrios de água doce.
e apenas os odores de esgotos.
apenas os colossos.
uns abandonados em escombros,
outros engalanados de futuros
como que premiados pela cabeça baixa
em assentimento aos anos que pesam sobre a pedra.
pensavas em mim de sangue quente.
e eu frio como a noite dos dias
na sibéria. eu como uma liberdade escondida
em vergonhas. quem me dera
ser livre e poder dar-te um pouco
dessa fragrância. mas eu preso
na pior de todas as prisões
a de ser infinitamente imune a todas
a todas as prisões, sendo ao mesmo tempo
infinitamente preso a todas as liberdades.

de mim nem a verdade nem a mentira.
apenas eu, nesta obscuridade.
a gargalhada histérica e o choro depressivo
de um ser que nada mais conhece
que as sombras e a matéria.
as sombras que derivam da matéria.
e que vive livre e preso nas duas
como um animal moribundo
na consciência plena do seu estado.

queria que entendesses que em mim
não repousa a crueldade do mundo.
apenas a minha própria que deriva dessa outra.
de nada servem as coisas belas
se não temos como envolvê-las
da realidade acima de todas as realidades.
só vemos o que está para além
se conseguirmos penetrar bem fundo
no mais fundo de nós,
e lá ficarmos pelo tempo suficiente
para sabermos da real matéria
que nos compõe.

nunca poderemos ser sequer
uma ínfima parte da grandeza
da obras materiais, dos colossos
que construímos, com o único propósito
das vaidades: de haver construído
e de poder demolir todas as construções
como a mesma força.

eu sou a fraqueza de todas as forças.
entende-me assim e ter-me-ás
traçado o esboço do eu que está
além do que escrevo. terás penetrado
tu mesma, no mais fundo de mim,
não encontrando senão a minha sombra.
a única coisa que tenho e sou:
a sombra de uma sobra de matéria.


pintura: Giorgio De Chirico - "O arqueólogo"


terça-feira, 6 de agosto de 2013

contar os dias

um gesto subtil afasta um adorno
e despes-te sem volta num tempo.
tal o ninho de agosto em hexágonos
na matemática do gosto. a fronteira
de ter-te em inspirações breves
e fazer de ti a minha cúmplice
das madrugadas. o astro que brilha
ao cimo das vestes, entre o espasmo
e a romaria ao corpo que resta.
talvez se contem os dedos pelos dias
e se instale aqui a fórmula matemática
da soma que divide em quimeras.
talvez a roda dentada de uma carne
em consumição lenta, que se entrega
à desistência na exacta medida em que
apenas esta se coaduna com a decadência
mecânica do suporte de identidade.
na realidade é o corpo o próprio adorno,
quantas vezes intempestivo até sucumbir
à evidência. a evidência da lentidão
do reflexo no relampejar cruel
da degradação. está escuro, e nós aqui,
nunca esquecidos,mas sempre abandonados.
brinquedos de uma força grande
na qual acreditaste um dia.
o outro adorno. o adorno da mente.
o adorno que te desmente que um dia,
num lado de lá, a máquina será reposta.
mas nós aqui, nunca esquecidos,
sem máquina. sem mãos entregues
nas outras mãos. sem mais dias para contar.
sem saber sequer mais contar os dias.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pântano

os pés sobre a laje: diáfana.
o coaxar metálico sem sopro
em cima de um nenúfar.

um balido apagado pela distância,
e um muro. possível de ser
transposto,

tem a altura de meio homem.
meia altura, meio muro,
que amortece em si os sons
da natureza. e dos aviões.

sacodem-se, aflitos os canos
oxidados onde se depositaram
musgos e cresceram tantas
criaturas vivas,
daquelas que apenas
se podem observar com o auxílio
de instrumentos. e de vontade.

dos azulejos, um azul forte
invadido por um verdejante
aveludado material sombrio.
requisita o sol para a síntese
do orgasmo respirável.

na transposição das cores
caem uns quantos, abertos,
gretados pela força das raízes
e do seu abraço às trepadeiras.

a civilização é um oásis
para lá do meio muro distante.
uma rotina na ideia concreta
que se desfez ao longo de décadas.
um barco à deriva.

os pés já não vão a medo
transpondo o que se pode ver.
pior é o caminho oculto,
aquele que está para além
dos escombros de tudo quanto
julgámos haver construído.
pior, é sabermos que
todas as construções
não passam de vãos caminhos
e que, num esgar manifesto
ao tempo, e ignorado,
sempre ignorado, damos passos
em falso. e o piso sólido: betão.
nada mais que pântano.

no tempo das amoras silvestres

no tempo das amoras e das silvas, os caminhos feitos pedra tosca onde a vida havia parado há anos. os muros, pilhas de vidas, amontoadas como o desprezo que foram tendo por si mesmas. foi um tempo austero de cultivos para passar a fronteira. de pouco valia, tal como o que agora vale, o suor a gotejar na derme seca e encrostada a imitar torrões. de pouco valia a palavra dada em surdina. o grito havia de ser unânime. um só grito de uma só dor. o sol nesses tempos tão severo quanto o gelo. tão lento a fustigar quanto uma tortura dos homens fardados de tinto e doutrina severa. o fogo era coisa de durar pouco. o fogo na palha da carroça de bois. o fogo nas coxas das mulheres esquecidas nas horas de serem gente. qual não. nada era não porque a pedra e o crucifixo violentavam entre as pernas frouxas num palheiro nos fundos do lameiro. o pai via e cantava. o avô via e chorava a memória de outros tempos em que também ele jorrava virilidades. ao dobrar dos sinos a correria em flanela rota e cheiro aos buracos, como se deus os fosse preencher de misericórdia. a escola ao fundo do espaço ensinava as coisas de importância. como se chamavam os rios, as pontes, as serras, os reis. como se chamavam os chefes. e como se soletrava a palavra silêncio, de palmatória. a mercearia dos homens ricos, os únicos homens ricos de uma terra de muitas fomes onde as criadas eram mesmo de servir. e um dia o filho do homem rico a morrer de gás como um judeu condenado foi salvo em correria e gritos. um dia continuou, afinal, o seu crescimento. não o tombou a mistura tóxica que se desfez em despertar abrupto. a criada de servir. amoras silvestres e espinhos na garganta. cresceu e fez-se homem igual a todos os homens e tomou quantos corpos quis. faltava muito para o amanhecer e a água gelada sobre no rosto despertava de um sono e ajudava manter o outro. silêncio. silêncio e amoras silvestres. contavam-se coisas sobre os fetos jogados ao rio. as barrigas que nunca cresciam e os corpos que nunca rasgavam de dentro para fora outros corpos. era sempre inverno, ainda que o sol, tão severo quanto o gelo. era inverno e as pancadas violentas nas portas de madrugada a fazerem eco sobre o mundo. e, no entanto: silêncio. os fetos sobre a água e as algemas a comprimir a magreza. o filho do homem rico não morreu, e mil filhos a flutuarem nas águas tranquilas de um rio. silêncio. as prisões a abarrotarem de subversão e de mulheres vazias. as pobres haviam de parir pobres para servir ricos. a palha amortecia tantos corpos nos palheiros ao fundo dos lameiros e era tempo de silêncio. era tempo de grito unânime. era tempo de amoras silvestres, negras como as sortes de todos os tempos naquele espaço em que alguns sabiam de cor como se chamavam os rios, as pontes, as serras, os reis. como se chamavam os chefes. e como se soletrava a palavra silêncio, de palmatória.

nós

quando nos pedem que sejamos transparências:
nós de sonhos turvos;
nós de alma turva;
nós de palavras indecifráveis;
nós de destinos entrelaçados,
anarquicamente emaranhados
em nós;
nós, opacos, e cada vez mais,
nós, menos nós.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Saudade

num vôo quase caleidoscópico, tenho a sensação de rever-te
e não estás: matéria, despida e iluminada matéria.

como o poder químico dos holofotes, a fórmula final
dos hipnóticos, és o derradeiro sonho.

a viagem escura e guiada aos limites de mim mesmo
em paredes brancas acolchoadas.

os botões grandes e suspensos e o som abafado de um grito
desgrenhado que se encosta à parede e dorme.

vejo-te em tons de dia anterior. numa mistura lúcida
de querer e não saber querer.

comes o diabo amassado em pão, e eu aqui: distante
do teu infortúnio, penso rever-te.

eu, acabado nos dias, gotejado num chão branco,
numa cegueira múltipla.

e não estás senão num cinzeiro vazio com cheiro a mágoas
vertidas no que podias ter sido: fumo denso.

e não te encontras senão na cinza que se fez do tempo
regado de um líquido com nome estranho

que se entranhou em mim como uma sombra no chão
sem pedir caminho ou permissão.

e não estás para além da memória de pele na pele
que ficou atrás de num vulto perdido

de dois, da soma que ousaste fazer quanto todo o tempo
era de divisão. células apartadas.

fizeste de todas as partidas, uma única chegada
mas a outro sítio que não este.

tenho a sensação de rever-te mas estás apenas
no meu delírio mecânico,

numa vertigem espasmódica que ensaio em
convulsões de saudade.

terça-feira, 14 de maio de 2013

PARADOXOS


Se apenas pudéssemos carregar todo o peso do mundo, teríamos invertida a gravidade das leis.

Um homem que se senta e escuta, engole as palavras inúteis. Por cada palavra que ouve, acrescenta uma letra à sua sopa, de letras.

As filas de homens que se estendem pelas ruas, são a espera de alcançar a resposta derradeira sobre quais são, efectivamente, as necessidades.

Necessitamos sempre do que não temos, e temos sempre o que desprezamos.

A humanidade vive no equilíbrio dos hemisférios que não domina. Os hemisférios do seu próprio cérebro. É incapaz de olhar dentro, de examinar com minúcia quais as bactérias cinzentas que ofertam o pensamento e, logo a seguir, o tornam na mais inútil das características.

Pensar é, sobretudo, morrer depressa numa existência ilusoriamente lenta. Aparentemente eterna.




quinta-feira, 9 de maio de 2013

CREMAÇÃO EM FOLHETIM


Fugaz, a voracidade de um intento
Rodopio veloz, sabor de vento
Que dança a dança macabra
Dos ossos frígidos, em segredo.
A dança de um ultimato
Desvendado em enredo
De folhetim depascente.

O fruto do eu e tu é a sombra
Projectada à distância de um dedo
Que aponta, seccionado em dobras
Falaciosas. Quisera fazer de haste
Da bandeira que cobrirá, um dia
Debaixo de sol tórrido, ou chuva
Um féretro de madeira escura
Repleto de nós. Os nós que a vida
Dá. Não nós, de tu e eu. Que ideia.
O fruto do tu e eu é a sombra
Que dança, ou parece dançar.
Já não sei. A esta distância
É tudo turvo. É difícil focar
E dizer claramente que nenhum
De nós é um borrão a matar.

Se quiseres, podes cobrir o caixão
Com dedos e fingir que as bandeiras
Vão dentro. Na realidade serão
Cinza breve que se fará antes
Do osso desfazer os nós da madeira
Escura. Não será estranha
A maquinação do raciocínio.

Aproveita a direcção do vento
E lança as cinzas para que não atropelem
os escaravelhos. E desliga o televisor.
Afinal, o folhetim passa a outra hora.


terça-feira, 16 de abril de 2013

EQUILÍBRIO ATÓMICO


Mais do que necessário, é urgente um equilíbrio atómico
Uma tempestade fulminante que incenere a matéria
Que é vício desde parto. A insane matéria que parte
À conquista do todo sem medir a soma sangrenta
De todas as partes que se fundem em actos sólidos,
Que se conquistam em fulgures pérfidos, que se
Fazem derrota constante em seu próprio solo.
Um equilíbrio dinâmico, nuclear, explosivo,
Um verdadeiro grito libertador, uma fímbria
Delimitadora entre aquilo que se é e aquilo
Em que se transforma a cada marcha em contínuo´
Das formas mecânicas do ceifar presenças
Incómodas. Urgente decepar o destino feito
Nas cadeiras escuras que se querem matéria
Desfeita em cinza. Um equilíbrio atómico...

quinta-feira, 21 de março de 2013

UMA MÁQUINA DE ASSUSTAR AS IDEIAS


A mulher tinha uma máquina nos dentes. Uma máquina de assustar ideias. Mas dizem que não. A máquina metálica fora-lhe colocada porque nascera de ideias tortas e queria saber de tudo um pouco. Fazia perguntas de forma constante. Agora perguntas metálicas. Queria saber a origem das coisas. De quantos elementos é composto um homem. Mas ninguém anda com tabelas periódicas dentro dos bolsos e muito menos sabe de cor os elementos que existem. A mulher sorria e logo se lembrava que o sorriso demoliria qualquer perspectiva de vislumbre da sua plenitude. a mulher pensara que a sua máquina metálica de ocultar dentes, lhe iria repor a ordem dos pensamentos e ajeitar o reflexo dos espelhos. O brilho, esse haveria de de se retirar directamente para o bolso da bata dos mecânico estrábico e míope. A mulher lembra-se perfeitamente. Como não lembrar. Tinha um BMW, o mecânico das máquinas metálicas dos dentes. Circulava em excesso de velocidade nas contas bancárias. Corrigia as deficiências milimétricas das ideias. Esfregava a mãos compulsivamente como quem pensa sem dizer "vamos lá!" Tinha um BMW no qual, um certo dia levou a passear a mulher. Não a sua mulher. A mulher que nascera e crescera torta das ideias, ainda assim ágil de boca. Haviam falado sobre a beleza. como seriam belas as bocas uniformes de brancura, alinhadas ao gosto de uma perfeição que pudesse aprumar todos os pensamentos, como se fossem estruturas lógicas e sequenciais. A mulher fazia perguntas. Queria saber das coisas. Queria saber de quantos dentes era composta a humanidade. Daria para fazer contas por alto. Os cabelos longos e soltos dançavam já ao sabor da velocidade e as árvores davam as intermitências ao som que o tornava como que um ritmo de dança. Era mais de que evidente, que depois de conhecer o pénis pequeno e torto do mecânico das máquinas metálicas de colocar nos dentes para endireitar as ideias, esta boca tão molhada quando uma esponja que acaba de ser retirada de um rio, iria fazer a derradeira pergunta, a mais valiosa e importante. Depois de engolir de um trago a pasta macia de infectar o mundo de gente, perguntou como poderia alcançar toda a beleza, todo o conhecimento e ter ao mesmo tempo todas as suas ideias de um branco puro.

Dizem que não. Fora-lhe dito que a máquina era uma espécie de passaporte para uma felicidade desconhecida. Quem sempre se questiona não consegue sequer tocar nos rebordos cortantes da felicidade. No entanto, e passados anos o peso da máquina fazia-se sentir como o peso do tempo deve sempre fazer-se sentir a quem dele se torna consciente. As ideias haviam sido assustadas de tal forma que se tornaram como que miragens. A presença metálica na boca nunca viria a disfarçar o sabor estranho e amargo do esperma do pénis torto e pequeno. A máquina tornara as perguntas metálicas, ainda constantes mas metálicas. Era já certo que o homem era composto de muito elementos, mais era estúpido querer saber quais desde que conduzisse sempre automóveis topo em excesso de velocidade nas contas.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Desencanto....


Há espinhos cravados em gargantas
E vozes cravadas nos espinhos.
Há a vontade de soltar gritos
onde nem existem ouvidos que possam
testemunhar materialmente o grito
absurdo. Há espinhos cravados no absurdo
dos gritos. E bocas abertas de espanto.
Quanto mais mudos os gritos, maior o pranto.
Há todo um desencanto...


terça-feira, 5 de março de 2013

MÃE E A ANULAÇÃO DO TU


Mãe, esqueceste-te de ser
tu, a tua pessoa, de viver
tu, a tua vida, de fazer
tu, as tuas coisas
E fizeste de mim muito
mais do que sou
muito mais do que quero ser,
muito mais do que poderia ser
longe, distante, porque tu,
mãe, deixaste de o ser
quando decidiste esvair-te
num tempo de ausências
quando querias a teu lado.
Mãe, tu não tens estado
para ti. Tu, para ti
Não tens estado
Nem respirado a tranquilidade
dos dias a contar, decrescentes
e apressados
serás a única forma
de inexistência que
aguardará a minha
Numa qualquer nesga de tempo
que virá um dia.
E esqueceste-te de ser. Tu.
De fitar o horizonte
com objectivo próprio
Esqueceste-te de beber o chá
para lhe sentir o sabor
sem a canseira dos dias
em que pensas se a paz
me acompanha na existência
pálida de um caminho
feito de silêncios


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A ARCA DO DESPERTAR SEM INOCÊNCIA

Somos no despertar dióspiros amarfanhados
Por uma noite que é uma mãe de chuvas.
E num esfregar de olhos, limpamos de nós
os restos. Descascamos o dia que se encerrou
em arca de madeira escura, que dura
há gerações no mesmo local. Somos
a pedra que se faz calçada e dá passagem
aos que, apressados passam. Para onde vão,
apressados, para onde?

Num salto repentino do leito quente
de olhar límpido e lavado do ontem,
como se os inícios fossem dias,
como se o passar dos dias fossem inícios
de algo mais que uma claridade
 que nos inunda, a que chamamos manhã.
E as manhãs são pedaços de horas
que passam ao lado do olhar fixo
interdito aos despojados da sorte de ver
ainda que com buracos no sítio de olhos
ainda que com uma cegueira infinita
das cores e das formas, mas fixo,
o olhar, que da noite herdou a lentidão
do reflexo. A manhã do despertar
de olhos aflitos, de músculos tolhidos
por um esticão de trovoadas
Um grito abafado e solitário
 que as mãos acompanham no gesto,
na dor, o sabor acre do sol que
viola as frestas das fitas velhas
que tapam as janelas. E as teias
onde as pequenas aranhas se acostumaram
também a amanhecer, parecem
uma rede de avenidas de uma metrópole
deserta, ou melhor, de um único passageiro.
De uma única via, de sentido
também ele único. Com presas nocturnas.

Choveu. Foi mãe a noite.
E a chuva é como todos os objectos
De tortura e prazer. É uma franja
de tiras de couro a fustigar de frio
as peles e as roupas, na manhã
onde despojados dos restos de outros dias
cuidamos renascer e apenas
revivemos desejos miméticos.

O espelho ignora a teia, ignora a aranha
ignora os raios de sol que entram
pela janela, ignora a janela,
ignora as fitas velhas imundas
que há anos tentam esconder luz do dia
nas manhãs consecutivas de despertares.
Ignora-me a mim. Ignora a inocência
do crer que existe um espelho
ou qualquer outro cenário.
Ignora qualquer cenário e termina
por ignorar o dia, fechando-o
na arca de madeira escura, que dura
há gerações no mesmo local.

 

LAÇOS DE APERTAR PESCOÇOS SEM REGRESSO

Fantasmas, chamam-lhes fantasmas, bom, não sei o que são, estão presos nas correntes que me vestem de aço o olhar de cada vez que piso o mármore negro, estão num desassossego tal que me tento desligar deles, tento desligar-me de tudo, tento fazer-me à estrada, entupida de entulhos, são obras que não param, são desgraças vertidas em lençóis de água, são águas rebentadas de crianças prometidas a mães convencidas que as crianças são de se ter, e fingem que a vida é coisa fácil, e comem sonhos esmagados, com sorrisos doces mas amargurados à medida que a ideia se concebe, porque têm frio, porque não sabem que nada é como lhes disseram quando cresciam, a vida é sempre uma coisa diferente do que as conversas de crescer, são dias, são dias que cortam a eito o estreito vínculo entre as margens, são as pontes construídas a mãos de morte, são casas envelhecidas por muitas vidas e outras tantas ausências, sim, uma dor de parir não é coisa pouca, é a dor dos fantasmas enriquecidos como urânio em ponta de míssil, o míssil que aponta aos úteros abertos à vida que não se sabe sequer se se quer. porque as palavras escorrem, as estradas vão ficando desimpedidas e sigo depressa, atrasado para o trabalho diário, ou para o diário do trabalho que há-se ser feito em escala, em nota musical, em tranquilidade, e sigo eu mesmo intranquilo pelo relógio, pelo ruído que sinto nas vozes que ouço sempre que chego ao armário de onde mais fantasmas se soltam e saltam por toda a superfície, está aspirada, está limpa, está na hora de carregar as palavras dos outros, está na hora de fazer de conta que existo no peso de todos os dramas de todas as tramas, de todas as tragédias, de todos os cálculos e de alguns dos pensamentos, não há tempo no tempo da ampulheta manipulada que regista cada atraso como condenação lenta e progressiva à morte, e pode ser súbita, quem sabe, que os fantasmas e os úteros nunca se deram, são formas opostas, não se vêem, não se tocam, não se esgotam, são melodias desencontradas de instrumentos divergentes, são cordas, são guitas, são baraços, são laços de apertar pescoços.

Espera-me o trânsito de regresso sem regresso.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A CARIMBADORA


A carimbadora veste os dedos de saliva.
Doutora,
fulana qualquer coisa.
E carimba os dias à secretária
lançando ironias toscas.
A carimbadora é uma cabra
manca das ideias...

ESTÁ UMA ARANHA NO TECTO


Está uma aranha no tecto.
Não, não está. É antes uma luz azul.
Está uma luz azul no tecto,
não vês? A luz? Azul?
Luz com patas de aranha,
no tecto(,) azul...
Não tenho medo de aranhas.
Não tenho medo de tectos
Não tenho medo de luzes.
Mas é azul e tem patas de aranha...

TENS UM CHEFE NA BARRIGA


Olha lá, sim tu
fizeste que mandavas
sem mando lógico
sem subordinado
debaixo das tuas mamas.
Sim tu, olha lá
Não sabes falar sequer
com estrume de cabra
Tens um chefe na barriga
tens uma boca de
fazer chefes ao rodopiar
da língua. tens uma língua
de serpente que
entra e sai sem aviso
tens um chocalho
tens um guizo.
Olha lá, sim tu
fizeste que sabias
da ordem e das ideias.
Mandaste labaredas
de esgoto. Deste o mando.
Fizeste de conta
que sabias pronunciar
palavras, E fingiste,
fingiste, continuaste a fingir
debaixo de uma capa insólita.
Olha lá, sim tu
nem cuidaste de saber
estar ou ser em posto
inventado para os teus
saltos altos.
Fizeste um assalto
à redoma dos medíocres
e pintaste-te em tons
berrantes. E como berras!
Sim tu, olha lá
Berras, e falas como
quem não sabe das letras.
Tens um chefe na barriga
por onde terá entrado?
Ele que te diga, que te diga
Se é que o sabe dizer
Porque penteias de manhã
os caracóis de ranho
E mandas sem saber
sem mando lógico
sem subordinado.
Olha lá, sim tu.
Faz-te à vida de cordel
Monta outro circo
Pinta outra manta
Manda na tua paisagem
faz do folclore que é
o teu estado, transformar-se
em subordinado de ti mesma
E manda-o foder!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Avaliação de "desempenhos"...

Quando num processo de avaliação de desempenho no trabalho acreditares que o que está a ser medido é, efectivamente a qualidade e quantidade daquilo que foi esse desempenho, desengana-te. O que esses processos representam é a aferição da tua capacidade de seguir de forma mais ou menos submissa e de coadjuvares de forma silenciosa a incapacidade e a incompetência de quem te lidera. Obviamente que também, o grau de amizade e "companheirismo" ajuda na elaboração desse processo. O ideal é mesmo comer à mesma mesa ou partilhar a mesma cama (nos casos aplicáveis)...