terça-feira, 22 de março de 2011

Mais papistas que o Papa I

Há por aí quem, no meio académico ou nas organizações, seja mais papista que o Papa e queira fazer transparecer como verdade aquilo que não passam de bodes expiatórios para as consequências da crise. Não tenhamos ilusões. Tudo isto se prepara para um único rumo, aquele que nos conduz a novas formas de escravatura quando nos roubam a cada passo todas as ferramentas para tomarmos nas mãos o poder de transformar.

É inadmissível que as academias preparem as pessoas numa óptica de pensamento único quando deveriam ser pólos ou fóruns de discussão aberta e clara do temas mais graves que se colocam à nossa sociedade actual. Mais do que uma demissão, há uma tendência premeditada e construída intencionalmente no sentido de alinhar o ensino com a forma actual de organização social que se provou desastrosa e mesmo anti-social. Querer compactuar no ensino e nas organizações com as desculpas que nos servem os incapazes que nos governam é o mesmo que assumirmos que preparamos as próximas gerações para o seu suicídio intelectual e moral. Assumir que estratégias empresariais são mais importantes que realidades sociais é absorver a ideia que as organizações são entidades supra-humanas quando elas existem porque a sociedade permite a sua existência compensando-as com a possibilidade de uns poucos enriquecerem às custas do trabalho de uma vasta maioria. Sociedade essa que nem sequer se preocupa com mecanismos de reequilíbrio a curto ou médio prazo ou com a constitucional e justa distribuição da riqueza. Depois querem despedir. E querem esmagar mais ainda salários. E enquanto isso determinados sectores florescem às custas do culto da suposta crise que se manifesta apenas para alguns. As academias e as organizações trabalham neste momento para um fim comum, por muito estranho que isso possa parecer, e esse fim é a continuidade de um sistema agonizante e podre, social e moralmente falando. Quando nesta altura deveríamos estar nos caminhos alternativos. É necessário chegarmos ao mesmo ponto a que chegou a Islândia?

1 comentário:

Francelina Oliveira disse...

Eu não podia concordar mais com este teu texto. De facto reflecte a nossa sociedade actual, infelizmente. Já ouvi da boca de um Senhor Doutor em Gestão de Recurso Humanos, que lamber botas que dava muito trabalho, e deve dar para quem o faz e admitamos, que não deve ser para o estômago de qualquer um. Para pessoas sensíveis como eu e talvez tu (não sei), talvez nos provocasse nojo. Mas isto só espelha uma sociedade cada vez mais empobrecida pela pobreza dos nossos concidadãos.
Cães de fila, acho piada ao termo, mas não conhecia.
Não tenho dúvidas quanto à sociedade que está a surgir, como se a própria sociedade “parisse” a mesma sociedade de abutres que se alimentam precisamente da própria miséria humana, que conduz para uma nova forma de escravatura.
Mas o mais engraçado, é que todos se escondem por dentro de uma “burca” ilusória de que só os outros é que lambem botas e que só os outros é que se submeteram às “manias” dos chefes… Tenham vergonha! E digam que não, sem medo!