quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Por favor haja um pouco de pluralismo!

O Dr. Luis Filipe Menezes veio por estes dias chamar a atenção para um problema muito preocupante. Tem a ver com a presença dos opinion makers do costume na televisão. E chamou a atenção dos jornalistas e da generalidade dos portugueses para o facto de existir um bloco compacto de intervenientes no espaço televisivo que lhe é desfavorável, mesmo quando dois dos principais comentadores (Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa) são militantes do seu partido.

Pedro Santana Lopes veio repetir essa mesma ideia no programa "o dia D" na SIC Notícias numa entrevista fabulosa e que pode resultar num amplo estudo dos fenómenos da política nacional para quem ainda se interesse por saber o que move e como se movem muitos dos senhores da nossa cena política. Faltam líderes de opinião ao PSD oficial que participem regularmente nas televisões seja a que nível for para repor algum equilíbrio a uma tendência cada vez mais flagrante de procurar opiniões independentes fora do universo socialista e partidárias de aparelho na esfera do PS.

Menezes e Santana têm toda a razão, a meu ver, quando vêem Vitorino e Coelho como guardas avançados do governo sempre prontos a explicar todas as curvas e contra-curvas da governação socialista. Mas há que ir mais longe. É que a democracia portuguesa não se resume por enquanto aos dois partidos de sistema. Os meios de comunicação social continuam a dar um tempo e uma importância que não corresponde à ordem de grandeza dos partidos nas urnas. Por exemplo, Paulo Portas continua a ser uma figura omnipresente mesmo representando um partido que tem perdido representação a cada eleição. Os partidos à esquerda do PS têm uma visibilidade mediática muito distante da sua verdadeira dimensão eleitoral. Distante por defeito, como é óbvio.

Voltando a Santana Lopes e à referida entrevista na SIC Notícias, a jornalista não se cansou de referir que a "quadratura do circulo" é um programa que deriva do antigo "Flashback" da TSF e que vai fazer exactamente vinte anos. Há vinte anos atrás os convidados foram o "esquerdista" Pacheco Pereira, o comunista José Magalhães e o centrista Nogueira de Brito. Por filiação partidária, PSD, PCP e CDS. Pacheco Pereira em vinte anos tornou-se no patrão dos blogs nacionais, defensor de causas absurdas e parece ser cada vez mais uma voz, sem qualquer dúvida inteligente, mas de uma direita estanha. Um desalinhado do PSD, de qualquer um dos PSD desde Cavaco que bate em tudo e em todos, mesmo no jornalismo que o promove como figura inquestionável do comentário político nacional. E estranhamente aliado de alguma extrema-direita, principalmente daquela que está neste momento com processos a decorrer. A defesa de crimes comuns como meros crimes de delito de opinião torna JPP, um ex-marxista-leninista-maoísta numa figura muito complexa. José Magalhães, sem qualquer tipo de surpresa está hoje orgulhosamente no governo socialista e muito me espanta que não esteja em posição de maior destaque. Lá chegaremos. Um dos mais importantes representantes do desporto nacional do lambe-botismo, teve durante este programa da TSF a sua transformação de comunista Marxista Leninista convicto, a dissidente, a autocolante da sua nova visão da luz ideológica que passa a defender com o maior dos vigores na era Guterres. Nogueira de Brito sempre me pareceu um homem sério de uma direita tradicional e clássica num CDS palpitante que passou pelo Liberalismo Nacionalista de Manuel Monteiro já com Portas a suportar na imprensa. Um CDS que perdeu força e expressão mas continuou com um representante na nova "quadratura". Lobo Xavier representa não o CDS-PP de hoje, mas algo próximo dos interesses por trás dos partidos do sistema. Jorge Coelho, por fim é o homem-partido. O robot socialista.

No canal público os dois comentadores residentes complementam-se. Dizem o mesmo com palavras diferentes. São prometidos líderes de qualquer coisa que se projecta num futuro incerto e, certamente, as vozes e caras oficiais do sistema político português centrado num único rumo e numa única visão da sociedade.

Resumindo e baralhando, Santana e Menezes têm razão ao sentirem o peso da máquina socialista por tudo quanto é lado. Mas têm de provar do seu próprio veneno pois o PSD no poder tem exactamente esta mesma necessidade de concentração. O que tem é tido um forte e cruel adversário pela frente. A mediatização das figuras que foram construidas por cima de Santana e Menezes custa ao PSD uma credibilidade que, e digo isto sem qualquer compromisso porque me encontro noutra esfera política bem distante, acaba por tornar quase impossível a tarefa de erguer o partido e de criar de novo os laços necessários para a implantação de uma máquina que se quer de poder.

Sócrates, como primeiro-ministro já teve muitos mais episódios de tudo quanto tornou o santanismo impopular e consegue manter uma imagem perante as pessoas de determinação e rigor. A Santana foi atribuida uma imagem instável, baralhada, emotiva, demasiado focada na sua vida pessoal que nem importa saber se é verdadeira ou construida mas que nada tem por certo a ver com um percurso político. A Sócrates foi atribuida uma imagem autoritária e arrogante, paternal como os portugueses apreciam num dirigente político. Sócrates foi levado ao colo pelos jornalistas e por um presidente da República que se deixou levar pelo interesse do seu partido pensando que esse correspondia aos interesses do país. Sampaio dissolve a Assembleia da Repúblida pouco depois da estabilização de Sócrates na liderança do PS. A máquina socialista é poderosa. Santana é traído pelos seus próprios pares e herda várias grandes mentiras encobertas por Guterres (o primeiro a escapar) e depois por Barroso (o segundo a escapar com uma boa desculpa). O PSD dos barões não suporta a ideia de que o seu vice-presidente se possa tornar no governante que se segue. Santana sempre foi uma voz crítica dentro da estrutura social-democrata e nunca escondeu a sua postura política de um PSD marcadamente à direita.

Curioso. Hoje temos em discurso um PSD claramente à esquerda deste PS que governa mesmo com Menezes a apresentar-se como um defensor de um liberalismo levado a alguns extremos. mesmo assim não se aproxima da prática do actual governo.

Para Santana e Menezes convinha que ficasse claro que não existe uma oposição. Existem várias. E que vozes fora do quadrante do PS oficial faltam mas não apenas para defender a linha traçada legitimamente pelo actual líder do PSD. A democracia em Portugal ainda é feita com mais partidos que necessitam de ter igualmente essa mesma voz nos meios de comunicação social. A política portuguesa não são propriedade privada de Sócrates ou de Portas. por enquanto ainda pode e deve ser um direito de cidadania que assiste a cada um de nós. Virá um tempo em que será diferente. Esse tempo começa a construir-se nas novas leis eleitorais que se preparam nos bastidores. Enquanto isso não sucede é conveniente para a saúde da nossa democracia que cada um de nós vote, em consciência nas oposições, aquelas que não são representadas nos programas televisivos mas que podem garantir a sobrevivência de uma democracia pluripartidária em Portugal. Marcelo, Vitorino, Coelho, Xavier ou Pacheco são todos uma só voz, a do sistema instalado e da sua manutenção mesmo que assim por vezes não pareça.

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