terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A entrevista do primeiro

Nesta noite foi apresentada a primeira grande entrevista do ano do primeiro-ministro José Sócrates na SIC. Talvez não deva ser catalogada exactamente desta forma uma vez que não se tratou exactamente de uma entrevista mas antes de três monólogos incoerentes e propagandísticos.

Os jornalistas colocaram perguntas e não esperaram respostas, aliás tentaram sempre impedir que estas fossem produzidas. O primeiro-ministro, por sua vez, com a habilidade que lhe é característica tentou a muito custo desviar as manobras jornalísticas dos entrevistadores de forma a jogarem a seu favor.

Sócrates foi o único grande vencedor do combate uma vez que a forma rasteira de apresentar trabalho por parte dos dois entrevistadores (Ricardo Costa e José Gomes Ferreira) lhe rendeu um resultado, quer na forma quer no conteúdo, que superou tudo o que se podia esperar de um encontro deste género.

Sabemos de antemão que a qualidade dos políticos portugueses é muito baixa. Ficamos a saber, com mais uma hora de comprovação, que não se ficam atrás os jornalistas. Num país que continua a apelar à competitividade esses apelos têm surtido todos os possíveis efeitos quando se trata de nivelar por baixo a qualidade de todas as actividades em geral, e em particular das que estão ligadas directa ou indirectamente com a política. O jornalismo está seriamente comprometido com estas figuras e com as que se seguiram a comentar de forma ridícula esta vergonha de entrevista.

Ricardo Costa fez demagogia e aproveitou-se do seu posto numa empresa privada de comunicação social para esgrimir argumentos quando deveria ter colocado questões. Mas, não se limitando a esgrimir argumentos, fê-lo de forma a defender a sua tese mais que conhecida de neo-liberalista confesso a apontar o dedo. Ele que não foi eleito para coisa alguma enfrenta o primeiro-ministro com a questão da nacionalização do BPN e pergunta com o dedo em riste porque tem este banco, agora público, as melhores taxas de juro do mercado. Dizendo sem qualquer pudor por duas vezes “o seu banco”, quando todos sabemos que o banco não é do primeiro-ministro e que a intervenção foi no sentido de uma nacionalização com vista à protecção dos depósitos. Porque pratica então o BPN as melhores taxas? Porque esse é o seu dever enquanto um dos melhores bancos comerciais agora, felizmente, nacionalizado. O que incomoda assim tanto Ricardo Costa? A concorrência do BPN (CGD) com a banca privada no negócio crescente neste período de crise que são os depósitos a prazo. Ricardo Costa defende quem?

Sendo José Sócrates um homem da direita moderada, aparece nesta anedótica entrevista como um homem de uma aparente esquerda porque os seus interlocutores são os representantes das ideias da direita política e económica.

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