segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A irracionalidade da guerra

Nada me move contra os judeus em particular – uma vez que falar sobre guerra torna por estes dias incontornável a questão de Israel e Palestina – nem tenho qualquer animosidade para com o estado de Israel, e vejo como uma realidade importante reconhecer o seu direito à existência específica com as características que são compreensíveis num estado formado da forma como este foi.

O problema reside justamente no nascimento, na forma e não no conteúdo, uma vez que nenhum povo pode reclamar o seu direito a existir e a ter um estado ocupando e massacrando os povos que, por todas as razões possíveis são os legítimos ocupantes do território reclamado.

O estado de Israel nasceu torno e tarde ou nunca se endireitará. A vingança do povo massacrado pelo nazismo é ser ele mesmo exterminador de inimigos reais ou potenciais, acossado e estimulado por uma comunidade numerosa e imensamente rica com organizações mais ou menos formais um pouco por todo o mundo. Israel tem sido tantas vezes, a mão e os olhos do imperialismo norte americano onde representa o maior lobby em termo de quantidade de membros e de financiamento aos políticos americanos.

Na curta visita que Obama fez a Israel antes da sua eleição ele disse algo que poderá ter passado despercebido a quase toda a gente. Disse esperar ver o estado de Israel em breve com a cidade de Jerusalém como capital. Esta cidade tem um significado muito especial para as três religiões monoteístas: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Aquela frase foi tão reveladora quanto a outra que disse no seu discurso na noite da vitória eleitoral cujo conteúdo era simplesmente que os americanos iriam derrotar os seus “inimigos”.

Os ataques de Israel a Gaza foram já condenados por muitos países mas sobretudo por muitos povos. Por muita gente que, independentemente da posição que o país tenha perante a situação, resolveu manifestar-se contra esta guerra.

Israel tem o direito de se defender de ataques. Contudo o que se viu não foram ataques que justificassem, à luz do direito internacional. Não foram de todo proporcionais e não descriminaram alvos. E isto sucede porque os alvos são uma população inteira.

O resultado efectivo destas práticas de guerra imperialista é que os inimigos do Hamas estão hoje a seu lado. A nível internacional, aqueles que sempre foram contra o Hamas e a sua visão islâmica do governo da Autoridade Palestiniana em contraposição com as forças progressistas que sempre dominaram a estrutura dessa mesma débil Autoridade até à vitória eleitoral do Hamas, hoje encontram-se na posição de defensores das posições do Hamas contra essas forças progressistas e contra a postura genocída de Israel. Este país conseguiu a proeza de colocar meio mundo a defender uma organização que até há pouco tempo odiava, porque se compreende facilmente que, com o pretexto de derrubar o Hamas, o que se vai fazendo é esfaimar e atirar sobre uma população inteira.

Assim sendo, a guerra termina de qualquer forma. Sem palestinianos não há Palestina e Israel vive e os EUA mantêm a sua guarda avançada intacta, invicta e intocável pelas autoridades que vão brincando ao direito internacional quando este serve de arma política contra os inimigos do império.

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