segunda-feira, 6 de abril de 2009

... novamente o mesmo discurso do medo e a teorização dos inimigos.

Chega a ser anedótica a questão que hoje foi levantada sobre o alegado míssil da R.P.D. da Coreia como é absurda a perseguição à intenção do Irão desenvolver um programa nuclear. Afinal quem decide quem são os bons e quem são os maus? Quem pode ser portador do armamento mais mortífero sob a ideia da protecção do mundo e quem se apresenta como seu inimigo? Não é compreensível tanto assanhamento perante uma consequência lógica da (até agora aparentemente inevitável) uni polaridade imperialista. Principalmente quando a "força" que nos tem vindo a guiar pela "luz" da verdade democrática e liberal nada argumenta perante a força militar e capacidade nuclear de estados pouco recomendáveis como Israel ou, pior ainda, o Paquistão.

Esta força arbitrária que funciona com uma lógica irracional, como uma religião que nos faz distinguir os bem e os mal intencionados do planeta, quer-nos levar a crer que a Coreia do Norte ou o Irão são menos humanos, menos civilizados, menos capazes do sentido de auto-preservação ou que não se sentem tão cobardes perante o risco de não existência. O mesmo sentimento que os ricos têm perante a miséria. Esta auto-preservação dos ricos tem-se traduzido politicamente nesta forma clássica e já gasta de sistemas económicos baseados pura e simplesmente na exclusão de muitos para a manutenção do poder e opulência de poucos. A mesma lógica se aplica aos povos que são vistos como bárbaros à luz do dogma liberal ocidental. Não interessa aqui saber, porque não é isso que está em causa, se as formas de poder de cada um destes países é a ideal. Até porque sabemos que a forma ideal de poder é precisamente aquela que está por realizar. Sabemos que o Irão tem questões pertinentes que devem ser analisadas à luz dos direitos humanos e que a ideologia Juche da Coreia do norte não é propriamente o sistema mais agradável de se viver por ter transformado a ideologia numa forma avançada de religião militarista. Mas há uma verdade que tem de ser dita. Nenhum destes países tem na sua História tantas vítimas quanto aqueles que, orgulhosamente armados de todo o tipo de armas (até de biológicas que não hesitaram a usar em algumas partes do mundo) se têm oposto ao desenvolvimento de programas nucleares por estes dois países.

Só poderia compreender uma postura desse tipo vinda de quem se propõe a promover o desarmamento progressivo de todo o planeta no que diz respeito a armas de destruição maciça. Mas esse está longe de ser o caso. Bem pelo contrário. Pelo que a União Europeia e os EUA unidos na sua aliança monolítica imperialista e auto-preservante da supremacia económica, política e moral ocidental, mantém uma espécie de modernas cruzadas contra infiéis de qualquer parte do mundo onde se ouse desafiar a verdade dessa supremacia.

Um mundo multiplar é urgente.

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