sábado, 19 de novembro de 2011

As incongruências técnicas

O Primeiro-Ministro de Portugal afirma que devemos apostar na contenção salarial para que haja um nivelamento dos salários em relação à Função Pública. Um discurso ensaiado no banco do confessionário quando à presença e consequente análise dos peritos da troika em relação à forma como está a ser executado o acordo de empréstimo entre este organismo e o Estado Português, falsamente designado como "ajuda" ou "plano de resgate". Nas entrevistas dadas pelos membros desta comitiva, que é verdadeiramente quem manda no país, ou seja, o governo executivo não eleito, foi clara a intenção de obrigar os salários do sector privado a encostarem-se nas restrições dos salários impostas ao sector público. Acontece que essa ideia, até do ponto de vista do próprio sistema capitalista é um perfeito disparate. Em primeiro lugar porque não existe capitalismo sem poder de compra. E nós não vivemos numa realidade política que nos permita tomar medidas proteccionistas, logo, o consumo interno, em conjunto com o aumento da produção (à qual chamam produtividade sempre que querem fazer entender que os trabalhadores portugueses não são produtivos) é importante para o crescimento do país, da sua riqueza. Mas, noutro plano, porque os salários mais elevados num sector privado fariam com que houvesse uma menor pressão para o emprego público, aquele que é derivado principalmente do amiguismo dos partidos do chamado "arco" do poder. Assim sendo, o próprio peso do Estado tenderia a reduzir. Mas isto são tudo tretas, na realidade. É que, quando dizem estas barbaridades, esquecem-se e querem-nos fazer esquecer que bem mais de metade dos portugueses vivem com salários abaixo dos 700 Euros, sendo que o termo contenção salarial na boca do Primeiro-Ministro tem de ser considerado como obsceno. Quem diz isto desta forma e fora de um contexto que todos conhecemos, aquele em que gestores e outros "boys" levam a fatia de leão dos salários em Portugal quando, os salários da esmagadora maioria dos trabalhadores tem sofrido estagnação (que na prática significa quebra salarial por duas vias, a do efeito da inflação e a da substituição de pessoas nas mesmas funções a ganhar cada vez menos), só pode ser, política e socialmente irresponsável.

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