terça-feira, 17 de março de 2009

Sócrates defende sindicalismo "livre de tutelas partidárias"


José Sócrates fala perante sindicalistas socialistas da UGT defendendo um sindicalismo livre de tutelas partidárias. Parece contraditório? Talvez porque é mesmo contraditório. O sindicalismo da CGTP, segundo Sócrates é instrumentalizado pelo PCP e pelo BE, duas forças políticas que se encaixam tão bem como a água e o azeite, mas que, segundo o nosso primeiro-ministro conseguem manipular centenas de milhares de pessoas para que saiam à rua para o criticar. Ao sindicalismo de classe da CGTP Sócrates chama de "instrumentalizado". Ao sindicalismo situacionista e militante dos dois partidos de sistema acrescido de alguns apêndices, Sócrates chama de construtivo, livre, moderno e apresentando propostas que defendem os trabalhadores.

Eu não sou nem nunca fui muito adepto de qualquer um dos sindicalismos preferindo a organização de classe nos locais de trabalho em comissões de trabalhadores. A cada realidade corresponde uma resposta e uma solução que só os órgãos das organizações que têm obrigatoriamente de incluir os trabalhadores. Vejo o espaço da confederação sindical como o resultado da soma dessas multiplicidades que devem fazer um todo unitário e convergente no sentido de uma intervenção vincadamente política. Porque a sociedade não se desvincula nunca da política e não há intervenções sociais sem decisões políticas.

Acontece que Sócrates quer, e é compreensível que assim seja, que os sindicatos existam para dizer sim. Que funcionem mas apenas para convergir com as soluções que se dizem únicas. Ora, se existem apenas soluções que desprezam as pessoas em favor do capital, qual é efectivamente o papel da intervenção de sindicatos sem intervenção classista, sem luta social? Qual é o papel das tendências sindicais que, ao invés de proteger os direitos dos trabalhadores dormem à sombra de formas de sindicalismo parasitário?

E nesse aspecto acho que mesmo a CGTP deve rever muita da sua forma de trabalhar o sindicalismo. Corremos sérios riscos de que as pessoas olhem para certa forma parasitária de fazer sindicalismo e rotulem as pessoas e as organizações em causa. Intervir sindicalmente significa dar o exemplo na luta pelo trabalho, pelos direitos do trabalho ou pelo trabalho com direitos. A profissionalização do sindicalismo é condenável e desprezável por ser contraproducente.

Considero a CGTP uma organização sindical com provas dadas de não instrumentalização partidária, ao contrário do que Sócrates fez ao dizer o que disse perante uma plateia de sindicalistas socialistas da UGT. É que na CGTP também estão muitos socialistas que nunca caíram na esparrela do sindicalismo soft da UGT. E eles fazem falta como todos os outros.

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