domingo, 19 de outubro de 2008

E há realmente uma escolha?

Agora que se aproximam as eleições americanas é necessário entender como funciona esta máquina de brincar às democracias e de queimar dinheiro em nome de interesses ocultos e obscuros. Muitos defendem que os EUA são uma democracia mas escondem como tudo se processa ao ponto de darem a entender ao público que os americanos realmente escolhem seja o que for no processo eleitoral para a presidência. O que se tem visto é que cada candidato do partido único com duas cabeça à direita e à extrema-direita a que decidiram estupidamente chamar de “democratas” e “republicanos” atira contra o outro todos os argumentos possíveis e imaginários de campanha suja criando a ilusão de divergência onde mais concordam. Mas a verdade é que os EUA não são o país mais importante do mundo. São um império forçado militarmente de mentiras. Começando obviamente pelo sistema político que anula as alternativas quando pretensamente é o símbolo da democracia. Se a democracia é escolher de quatro em quatro anos líderes embrenhados em campanhas milionárias, iguais entre si, que anulam a possibilidade de outras escolhas à partida então a democracia burguesa atingiu finalmente a sua última etapa, a da ditadura travestida de democracia. Viver na liberdade a mais humilhante prisão, da ignorância e da estupidez.

Para que votam então alguns americanos? Algum, porque o número de votantes é escasso tendo em conta a população do país. É fácil compreender no final deste texto porque não votam os americanos. Mas os que votam fazem-no com a consciência de que escolhem um presidente?

Os eleitores não votam para o presidente dos EUA. Em primeiro plano há que compreender que para exercerem o voto os eleitores têm de ser reconhecidos como tal. Ao contrário do que conhecemos no nosso país, nos EUA são os eleitores que têm de se registar para votar a cada acto eleitoral. Normalmente os eleitores autopropõem-se como tal através de campanhas de recrutamento pelos dois supostos partidos americanos. O eleitor pode apresentar-se ou propor-se como democrata, republicano ou independente (?) no acto do registo. O registo pode ser feito por uma infinidade de formas. Basta procurar na internet e veremos milhares de páginas com formulários que conduzem ao registo de eleitores partidários ou independentes. Em suma, para que possa votar (o que cá é considerado um direito) o cidadão americano tem de propor-se pelos seus meios tendo de partir da sua iniciativa ou do acompanhamento partidário uma vez que o eleitor se propõe como apoiante do partido democrata, republicano ou independente. Os dados deste processo anedótico de recenseamento estão disponíveis à data das eleições para que se compreendam melhor as circunscrições eleitorais. Ou seja, não exista surpresa na realidade.

Salvo raríssimas situações previstas na lei, o voto em Portugal é universal. Nos EUA existem estados onde sujeitos que estiveram presos jamais poderão votar. No entanto na maioria dos estados esse direito é negado a quem esteja preso ou sob qualquer forma de liberdade vigiada ou condicionada ou por ter um antecedente criminal de delito grave. Mais interessante é que em alguns estados procedem a uma limpeza dos registos eliminando nomes que são idênticos ou muito parecidos com nomes de condenados com crimes graves, presos ou em liberdade. Este processo é feito por empresas informáticas especializadas e próximas dos partidos do sistema e tem como objectivo reduzir ao mínimo possível os votos das minorias, nomeadamente a comunidade negra que vota tendencialmente mais pelos democratas. Nesta eleição que se aproxima a questão coloca-se mais do que nunca uma vez que pela primeira vez aparece um candidato mestiço e com fortes probabilidades de ganhar. Será por isso que se vem ouvindo crescentemente nos comícios republicanos expressões como “arranquem-lhe a cabeça” ou “matem-no!”. Sendo semelhantes entre si os candidatos nas questões principais o candidato republicano não consegue ver sequer o seu opositor como seu igual.

Não é compreensível como num país desenvolvido existem incontáveis irregularidades no processo eleitoral, com supressões deliberadas de votos, com fraude e manipulação no processo electrónico de votação e fraude constante na votação por correio. Os sistemas de votação electrónica têm vindo a substituir os métodos tradicionais. Cada estado, e dentro deste em cada condado é que decide qual o método a utilizar para o voto que pode variar entre as formas mais estranhas como por exemplo cartões perfurados.

A questão central é precisamente o objecto do voto. O presidente não é eleito pelos eleitores. Estes votam para um colégio eleitoral formado por criaturas sinistras que ninguém sabe quem são nem de onde vêm e muito menos ao que vêm e são estes que elegem o presidente. Esse colégio eleitoral de “electoral votes” ou votos eleitorais, decide quem vai ser o próximo presidente. Contudo, na grande maioria dos estados (excepção feita ao Maine e ao Nebraska onde é usado o método de Hondt) é usado a regra maioritária onde o partido com mais votos leva todos os representantes. Não existindo proporcionalidade é negada a possibilidade de existência de outras candidaturas. No entanto é mesmo esse o intuito. A bipolarização não é mais que fachada uma vez que republicanos e democratas são duas faces da mesma moeda como em qualquer sistema totalitário. Os cidadãos votam em fulanos que desconhecem e em quem acreditam estar bem depositada a sua vontade embora nada os obrigue a cumprir o sentido de voto de quem os elegeu.

A democracia tal como a devemos entender deve ser regida clareza do sistema político. Este não é nada claro. É mesmo muito sombrio. Numa época de crise, dizem mesmo a maior desde a grande depressão estão a ser disputadas as eleições mais caras de sempre. São milhões de dólares que servem para empobrecer o sistema político e que terão de ser mais tarde retribuídos a quem os financiou. O sistema está preso por milhões à grande finança para que depois, em momentos de desespero e falhanço o estado intervenha para a salvar tornando este ciclo no mais ruinoso ciclo político na história da humanidade. Este é, sem sombra de dúvida o mais podre império de todos os tempos.

Um pormenor curioso é o facto insólito de as eleições se realizarem sempre a uma terça-feira quando a grande maioria das pessoas estão a trabalhar e muitas vezes fora das suas circunscrições eleitorais. Será fácil entender as abstenções superiores a 50% e o facto de um em cada quatro americanos dizer não acreditar no sistema político do seu país? Não seria de terem em consideração um sistema de sufrágio universal? É evidente que não. Este sistema permite a manutenção automática do poder dentro do totalitarismo bicéfalo da política americana.
As campanhas eleitorais são disputadas fundamentalmente através dos meios audiovisuais pelo que representam um grande negócio para os designados “media” nas mãos das mesmas corporações que “doam” para ambas as campanhas.

E para culminar, por norma os candidatos têm vindo a tornar-se cada vez mais burros e estúpidos, mais acéfalos, mais patriotas e religiosos, mais despesistas, mais liberais ou mais conservadores. Têm-se feito rodear sempre da pior escumalha à face do planeta.

Remato os votos sinceros para a vitória de McCain pois parece-me o caminho mais curto para a destruição dos EUA enquanto império e para a sua desgraça económica e militar.

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