quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ONDE ESTÁ O CORREIO?

Embora com uma noção já algo distanciada do que é ter uma vida normal de trabalho nos horários considerados normais, continua a ser um hábito marcado por uma certa ansiedade, aquele de abrir a caixa do correio antes de sair de casa.

A cada dia que passa esse hábito torna-se num exercício estranho de procurar o correio. Não que a caixa seja grande. Pelo contrário é até um pouco acanhada. Contudo é possível retirar dela uma panóplia de conteúdos que tornam complicada a tarefa de selecção do que pode ser interessante e do que é visivelmente lixo. O correio, aquelas cartas que esperamos, as das contas e as outras que nos podem trazer boas ou más notícias. A correspondência normal da vida de uma pessoa que existe na sociedade e é tratado com a igualdade de qualquer outro correspondente costuma agora estar depositada no meio de todos os folhetos publicitários de todas as superfícies comerciais que existem pelo menos num raio de cem quilómetros da residência.

Há uns anos alguns iluminados resolveram inventar um autocolante onde o “dono” da caixa de correio poderia manifestar a sua vontade de não receber todos estes conteúdos publicitários. Depois disso foram inventadas as publicações gratuitas. Os autocolantes foram sendo degradados com o passar da moda do direito à não informação. E hoje tudo está esquecido. Continuam a derrubar-se árvores para publicar folhetos publicitários do mais puro mau gosto e da mais pura provocação. No entanto outros existem que podem conter informação importante e interessante. Quando inventaram esses autocolantes esqueceram-se que seriam muito facilmente contornados pelas grandes corporações uma vez que com o respectivo acesso a bases de dados poderiam sempre bombardear com publicidade direccionada, ou seja disfarçada de normal correspondência. O talho da esquina, a serralharia ou o pequeno mercado do bairro, os serviços do canalizador ou do pedreiro, da doméstica ou do cabeleireiro, enfim dos pequenos negócios que não têm bases quanto mais dados, esses ficavam arredados da possibilidade de publicitar directamente os seus serviços.

Perante ideia tão idiota, mas sobretudo perante o estado actual dessa mesma ideia e das ditas caixas de correio seria bom que se proibissem as grandes superfícies de distribuir os folhetos em formato de papel por todas as residências. É uma medida mais fácil que fazer a selecção de quais as que queremos ou dispensamos de receber.

Já não há paciência para a mediocridade publicitária dos senhores que criar coisas como o “eu é que não sou parvo”. E podemos observar e esperar muitas outras mediocridades mesmo de instituições que julgávamos estarem afastadas desta guerra que leva ao comportamento obsessivo dos consumidores por cêntimos à velha moda das feiras. E depois dizem que é proibido o dumping e permitem publicidade descarada a produtos claramente abaixo de preço de custo. E o consumidor convencido que este entulho na sua caixa de correio o vai ajudar a ter um menor custo de vida quando o que vai é oferecer tudo aquilo que ele não necessita por uma pechincha que na realidade já não pode pagar. Naquela mesma caixa de correio estão escondidas as contas, aquelas que nos custam o ar que respiramos e nos tiram a vontade de irmos trabalhar no dia seguinte roubados que somos por todos estes intervenientes na nossa vida.

Contrariado arrasto comigo todo aquele entulho até o poder separar quando chego a casa. O que interessa é folheado com alguma atenção. Bem menos do que seria se não tivesse mais uma pilha ao lado para continuar a triagem. O que não interessa vai para o lixo. Não para a reciclagem, mesmo para o lixo. Nestes breves momentos acredito que o mundo não tem forma de ser reciclado e não merece ser salvo. Apodreça então, de preferência ainda antes das promoções.

Sem comentários: