sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pensar com os genitais...

Um post curioso num dos sítios da blogosfera que mais me dá prazer ler, o Zero de Conduta, vem lembrar-me que a nossa sociedade, em muito poucos anos sofreu uma transformação radical.

O post refere-se à recém lançada campanha da cerveja Tagus, que utilizando uma fórmula de marketing disruptivo, opta por ser politicamente incorrecta no sentido de criar um site onde se promove aquilo a que decidiram chamar, em alusão ao que sucede com os movimentos gay e com as suas famosas paradas, "Orgulho Hetero".

E este post (ler aqui) é curioso justamente porque, seguindo uma linha de intervenção social de tendencia de esquerda, cai precisamente no erro mais reaccionário de considerar esta campanha uma espécie de marcha homofóbica, ou uma espécie de cruzada pelos valores tradicionais de uma sociedade que me parece ter-se já esquecido de quais são esses valores e de que forma os pode recuperar. Pior ainda, se é pertinente na realidade actual recuperá-los. E é reacionária porque se propôe a descriminar em nome de uma defesa de não descriminação. Primeiro porque a cerveja não é assim tão má. Depois porque apela à retirada imediata da referida campanha quando não existem quaisquer motivos razoáveis para que isso suceda.

Se uma qualquer marca resolvesse sair à rua com uma campanha de marketing baseada no "orgulho gay" toda a gente batia palmas e se aliava a um baluarte da defesa da igualdade e da não descriminação. Quando uns cérebros pouco iluminados resolvem pegar na ideia abstrusa que é o conceito de "orgulho gay" transportando-o para o outro lado, saem todos que nem umas donzelas ofendidas ou cavaleiros andantes em defesa dessas donzelas. Ora, esta palhaçada da Tagus só vem no seguimento das palhaçadas que são as marchas do "orgulho gay". A filosofia é a mesma e pobreza de espírito também. O mesmo folclore e o mesmo circo.

Isto permite pensar que hoje não existe, de parte da comunidade gay, e de todos os defensores do circo montado em torno de uma parcela politicamente activa desta comunidade, uma ideia de igualdade mas antes uma ideia de supremacia que abomina todos os valores hetero. E isso revela-se nas reacções a esta acção de marketing que já está a cumprir parte do seu objectivo. Veja-se aqui o que é a verdadeira face dessa parcela da comunidade gay ofendida traduzida em imagens sucessivas de um puro mau gosto não apenas contra a referida cerveja mas contra a heterosexualidade em si aliando-a inclusivamente à violência doméstica e ao fascismo e nazismo.

As duas formas de descriminação são igualmente reaccionárias. A heterosexualidade agora está a tornar-se uma comportamento desviante? Uma anormalidade? É assim tão chocante que homens e mulheres tenham orgulho em gostarem uns dos outros? Que puta de socidade estamos nós a construir?

Agora o mais importante de tudo isto é que não vejo qualquer problema em que um gay tenha orgulho em o ser e que um hetero tenha orgulho em ser hetero e em expressar livremente esse orgulho. Convenhamos que a ideia de descriminar alguém pelo que gosta de fazer com os seus genitais... por favor!

1 comentário:

L u i s P e s t a n a disse...

"Apela à retirada imediata da campanha quando não existem quaisquer motivos razoáveis para que isso suceda"

A má reacção (sem discutir a validade da mesma) das pessoas não é suficiente?

É que está a falar-se de publicidade...