sábado, 19 de julho de 2008

Os aprendizes de feiticeiros


No congresso da Juventude Socialista onde vai ser eleito o novo líder parece que é tempo de esquecermos a crise. Com tantas dificuldades anunciadas por tantas entidades diferentes mais ou menos amigas e cúmplices das vias do poder a Juventude Socialista resolve dar escolher o tema da “igualdade” para o seu combate político de futuro. Quando ouvi esta frase por momentos pensei que o socialismo tivesse regressado às camadas jovens do PS.

Num tempo de crise generalizada seria de prever que os jovens olhassem para a plítica prática com uma visão mais crítica e construtiva. Daí que, na minha ingenuidade e naquela fracção curtíssima de tempo, devo ter feito uma tamanha cara de espanto com a palavra e o tema escolhidos. Penso que a “igualdade” é um tema que daria para um longo texto não podendo ser encarada como algo de linear e simplista. O “igualitarismo” foi um dos pontos mais críticos da aplicação prática do socialismo científico e um dos que levou essa aplicação aos sucessivos fracassos históricos. Tomado esse tema de uma forma progressista a aplicando às sociedades actuais podemos partir do princípio que a todos deve ser dado o mesmo nível de educação, de acordo com as suas capacidades, aptidões e necessidades sociais. Devem ser dadas oportunidades iguais para que sejam (ou não) aproveitadas por cada um dos indivíduos na sociedade. Ao contrário do que pensam muitos socialistas e comunistas penso que as camadas sociais improdutivas e auto-marginalizadas não devem de todo ser alimentadas pelos impostos de quem trabalha e produz. Num sistema liberal estes apoios sociais servem de travão a uma sociedade com um nível de violência mais extremada pela consciência das desigualdades sociais. Acontece que existem desigualdades que são o fruto da vontade (tão legítima quanto o seu contrário) do não trabalho. Numa sociedade democrática de economia capitalista ou socialista as pessoas têm de ter o direito de não produzir contudo mesmo a estas devem ser dadas todas as oportunidades em igual medida quantitativa e qualitativa. Não devem é ser sustentados por aqueles que, com o fruto do seu trabalho produzem para que outros beneficiem.

Mas eis que uma nuvem densa passou pela frente de todo este pensamento que já queria voar para outras paragens mais distantes. Afinal o que os jovens do poder socialista queriam falar era apenas e só de folclore político. Era apenas sobre um tema absurdo e irracional na época em que vivemos por passarmos por dias difíceis e os putos do PS apenas pensam nos genitais. Lembro-me que um grande amigo me costumava dizer que no mundo tudo gira em torno de “mamas”. Quanto mudam os tempos. Para os jovens socialistas, para que não se fiquem na retaguarda do Bloco de Esquerda o tema da igualdade resume-se à necessidade de promover o direito ao casamento de casais homossexuais. Não serve o que está na lei que já permite a igualdade de tratamento a vários níveis entre casais heterossexuais e de outros tipos como ainda têm de promover a igualdade para a instituição religiosa e sacramental do casamento.

Para mim tanto se me dá. Apenas fico apreensivo com o centro do interesse e da acção política das jovens elites do poder socialista. Estes serão os xupistas políticos que nos extorquirão o dinheiro dos impostos para promover as suas acções políticas no futuro mas a boa notícia é que poderão haver casamentos homossexuais.

Tapar os problemas sérios e reais da sociedade com folclore político é já uma lição estudada e entendida pelos aprendizes de feiticeiros do poder socialista. Estão já preparados para a governação do país e para os altos cargos nas empresas públicas que os esperam. Tudo cada vez mais cor-de-rosinha...

1 comentário:

filipe guerra disse...

Caro Paulo Mouta,
O folclore político é uma consequência dos tempos que correm. Um Governo que não consegue, um sistema político, económico e social completamente esgotado, acabam por encontrar neste folclore um meio de sobrevivência.
Observe-se o discurso e os temas políticos "do momento", a forma como são noticiados e apreciados pelos media, tudo, tudo para não se ir ao fundo das questões. Para não se enfrentar os problemas de frente, para não se tocar no nervo.
até à próxima...