quinta-feira, 29 de maio de 2008

O rufar dos tambores

A situação política e económica do país está a criar uma forte participação popular. Sobre todos os aspectos desta crise têm falado muitos analistas e quase todos no meio sentido. Ela veio para ficar. Mas numa análise mais profunda temos uma cada vez maior divisão entre os que acreditam que tudo se torna inevitável e que o mercado está a ser consumido pelas suas próprias regras e aqueles que vêm no sistema em si o motor de toda esta imprevisibilidade que nos arrasta para aquilo que esses mesmos comentadores vão adivinhando, sérias convulsões sociais.

Parece, tudo isto, mais uma anedota do determinismo económico que vivemos e que assenta num sistema que se quer cada vez mais liberal mas com um liberalismo que se quer cada vez mais também com pilares bem fundos na sustentação dos estados. A hegemonia proclamada dos sectores privados subsiste e comprova-se na mendigagem e na regulamentação por baixo das mesas e nas subsídio-dependências criadas e alimentadas por um sistema económico que se apresenta como única solução e última via. Contudo um sistema que não consegue explicar de forma racional e muito menos controlar a forma irracional como o valor do barril de petróleo vem subindo nos últimos meses. Todos os dias ouvimos os mesmos comentadores paridos e criados na doutrina económica oficial que ontem a subida se deveu a um atentado na Nigéria, hoje no facto de as reservas petrolíferas nos Estados Unidos estarem mais baixas do que o previsto e amanhã será por outra coisa qualquer.

Os países produtores e exportadores de petróleo não entendem eles mesmo a razão de tais subidas. Não houve grandes alterações na extracção e na distribuição. As quantias lançadas no mercado são suficientes para a normal utilização mesmo com os actuais níveis de desenvolvimento das chamadas economias emergentes. Assim sendo, e não estando ninguém verdadeiramente empenhado em criar alternativas que sejam viáveis e duradouras ao petróleo, sabemos que muitos estão interessados justamente em manter estes aumentos insuportáveis porque a sociedade actual não está preparada para substituir a suas principal fonte de energia sobretudo para os transportes. É difícil explicar um português porque pagam os venezuelanos 30 cêntimos de euro por cada litro de gasolina ou porque pagam os norte americanos em média (uma vez que lá os mercados realmente estão liberalizados) 1,04 dólares por litro de gasolina (preço de retalho, ou seja ao consumidor final). É ainda mais difícil explicar como mesmo ao lado temos uma diferença que ronda em média os 20 cêntimos em Espanha pela mesma gasolina sendo que a carga fiscal aplicada em Portugal ronda os 60% do valor ao consumidor.
Alguns ultra-liberais já apareceram a pedir uma regulamentação pela baixa do ISP estando a pedir algo que é antagónico com as suas ideias e os seus princípios e mais uma vez exigindo do estado que venha resolver os problemas criados pelas regras especulativas do mercado que alimentam e no qual apenas vêem virtudes.

O que esta crise mundial (mas encarada levianamente a nível nacional e não apenas em Portugal) vai produzir é um exército de pobres que podem muito bem arrombar as portas das fortalezas onde esta gente se refugia. O fim desta novela está longe de estar à vista e pode muito bem ser que os comentadores tenham razão num ponto do que dizem. Irão certamente nascer e crescer um pouco por todo o lado convulsões sociais com consequências imprevisíveis. Contudo, o tão proclamado fim da história com a “perestroika” do Sr. Gorbatchov que ditou o fim de um caminho alternativo pouco viável e pleno de erros, não chegou há uma década atrás. Antes pelo contrário, hoje comprova-se que o próprio sistema capitalista apresenta uma crise e que o mercado só por si não pode nunca funcionar sem que se criem estas crises cíclicas geradoras de uma pobreza sistemática numa vasta maioria da população mundial. Não é possível acreditarmos que não se esperava que o desenvolvimento de países como a China, fossem desestabilizar as forças económicas mundiais. Estamos a falar de um sexto da população mundial e com aspirações a prosperidade e desenvolvimento e que tem pela sua frente uma batalha gigantesca para conseguir prosseguir num caminho onde a ilusão consumista possa coexistir com a protecção social devida numa sociedade com o modelo político actual.

Com tudo isto e muito mais urge participar no processo de mudança e na construção da barreira que possa travar a insanidade do livre arbítrio do mercado. Urge o colocar em causa os próprios fundamentos do nosso sistema político, social e sobretudo económico.

Em Portugal essa batalha é encabeçada por muitos cidadãos que participam e juntam a sua voz em iniciativas como o comício que junta forças políticas como o BE, a Renovação Comunista e alguns elementos da esquerda do PS como Manuel Alegre ou Helena Roseta no dia 3 de Junho pelas 21:30 no Teatro Trindade em Lisboa. No dia 5 de Junho tem lugar outra esperada grandiosa manifestação popular convocada pela CGTP com vista a alertar para os perigos das pretendidas alterações na legislação do trabalho.

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