sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Como se torna o capitalismo invencível?

A resposta tem vindo a ser encontrada crise após crise. A solução para o combate a cada uma das crises sistémicas (mas aparentemente conjunturais) é a aplicação de medidas aprendidas do socialismo mas invertendo o objecto. Tornando o estado numa ferramenta para manter as fortunas dos que perderam na roleta russa do azar dos mercados. Como quem controla o estado é a mesma gente que controla a economia, o capitalismo torna-se invencível e por mais incrível que possa parecer o capital continua a circular nas mesmas mãos mesmo com o sistema financeiro a colapsar.

Hoje, num dos noticiários da SIC Notícias, num pequeno debate entre Martim Cabral e João Pereira Coutinho ficou claro que a simples ideia de querer colocar em causa o sistema capitalista é como desatar a anunciar a invasão de marcianos. Os liberais acreditam religiosamente nos mercados e na forma como eles funcionam. Enquanto Martim Cabral fazia uma crítica muito leve à falta de regulação dos mercados financeiros, João Pereira Coutinho falava em algo mais devastador. Segundo ele a culpa desta crise é justamente das sucessivas intervenções estatais no sacrossanto mercado. São estas intervenções que fazem com que o mercado não funcione em pleno não existindo um verdadeiro sistema económico liberal.

Por aquilo que temos ouvido, e é preciso ter em conta que hoje o ouvimos do presidente actual dos EUA, a não intervenção do estado sobre os mercados financeiros poderia representar um desastre e potenciar uma crise internacional de proporções incalculáveis. Poderia mesmo tornar mais credível a anúncio da invasão dos marcianos ou do fim do determinismo capitalista. Claro que Bush não ouviu a sábia intervenção de Pereira Coutinho na SIC Notícias senão teria imediatamente parado com o plano mega milionário de salvação financeira porque isso, segundo aquele comentador só estraga o capitalismo. Acontece que estas intervenções aparentemente socializantes são exactamente a salvação do sistema.

Os milionários de Wall Street podem sempre estar certos que, independentemente do mal que fizerem e do parasitarismo económico que espalharem no mundo, a mão contraditoriamente socializante do estado irá salvar as suas fortunas roubando dos contribuintes em geral. E algum tempo mais tarde, por pouco mais que nada devolverá à iniciativa privada as empresas salvas de dívidas para que novamente sejam entregues às lógicas do mercado que as destruiu.

Quanto aos que não conseguiram pagar as suas casas e viram os seus bens penhorados são apenas danos colaterais neste ciclo vicioso de invencibilidade do capitalismo.

Sem comentários: