segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um acontecimento histórico que passou (quase) despercebido

O Chipre foi às urnas e escolheu claramente o caminho da busca da reunificação. Demetris Christofias, do AKEL - Partido Progressista do Povo Trabalhador do Chipre, venceu as eleições com 53,36% dos votos num sufrágio onde participaram mais de 90% dos cidadãos eleitores.

Christofias torna-se assim no primeiro presidente Comunista de um país da UE o que se torna relevante para todos os outros partidos da esquerda socialista no espaço europeu.

Torna-se cada vez mais claro que a propaganda anti-comunista vai deixando de fazer efeito aos poucos não obstante o facto de toda a comunicação social estar nas mãos dos seus maiores opositores e fazer sempre questão de transmitir essa mesma imagem. O anti-comunismo vai deixando de ser uma moda. É certo que nasceram outras esquerdas socialistas e muitos partidos comunistas transfiguraram-se pouco restando dos velhos combates.

Estou certo que algumas mudanças críticas eram necessárias para que se pudesse dar o ressurgimento da confiança num ideal que foi mutilado por uma História pouco favorável. As experiências sociais do socialismo científico revelaram-se desastrosas em muitos aspectos mas a ideia base continua por trás do que faz mover as mais diversas esquerdas socialistas nesta europa globalizada pela negativa. Uma esquerda que volta a querer assumir o seu papel internacionalista, ou como chamam novas tendências "alter-globalista".

O AKEL é um partido com uma história muito importante e espera-se que possa vir a desempenhar um ainda mais importante com o processo que se segue para reatar o diálogo com a parte cipriota governada pelos turcos.

Embora aparentemente tenha pouca importancia a nível mundial, os olhos de todos os progressistas devem estar aqui bem concentrados. Experiências como o "Die Linke" na Alemanha podem muito bem vir a projectar um futuro bem diferente aos povos europeus. A mudança não está apenas na América Latina com os resultados do Fórum de São Paulo a dar amplos fruto numa viragem à esquerda deste sub-continente.

O facto de um Comunista haver sido democraticamente eleito num país da União Europeia elimina todas as desculpas para uma intervenção externa de pressão para resultados adversos na sua governação. É óbvio que isto é incómodo para Washington e Londres no entanto não é este o tempo e o espaço para intervir na europa como o fizeram por outras partes do mundo. Grande parte deste mundo está com as atenções voltadas (positiva ou negativamente) para as eleições nos EUA e para os resultados práticos das mudanças que irão ser produzidas após este ciclo.

Apenas mais uma nota de rodapé. Estranho que na esquerda portuguesa apenas o Partido Comunista Português se tenha manifestado, congratulando-se com esta vitória eleitoral.

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