domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ainda bem que temos os carros e os computadores topo de gama e uma vida de luxo, no terceiro mundo têm... saúde?

O nosso Serviço Nacional de Saúde é um desastre. E isso já todos nós sabemos. Tornaram-no num desastre para que possa servir de uma boa desculpa para a proliferação de uma oferta provada paga a peso de ouro por quem pode. Ou pior ainda paga por todos os contribuintes para benefícios de alguns.

Deparei-me hoje com um texto publicado no jornal cubano "Granma" na sua versão digital. Ao que parece lá também existem computadores, mas não só.

"A vida de Vânia Correia, jovem portuguesa de 29 anos, natural de Porto Alto, em Santarém, a 80 quilómetros ao norte de Lisboa, mudou bruscamente aquele dia de fevereiro de 2003.

Como consequência de um acidente com maquinaria agrícola, sofreu lesões nas vértebras, com perda do cabelo e desfiguração de uma parte de seu rosto. Passado um mês em estado de coma, despertou com a triste realidade que estava paralisada do pescoço para abaixo. Nove meses de internamento e de fisioterapia no Centro de Reabilitação de Alcoitão conseguiram uma recuperação parcial da mobilidade dos braços.

Vânia sempre esteve convencida que podia voltar a andar e recuperar o movimento das pernas. Ao ter conhecimento do trabalho que Cuba desenvolve nessa área, enviou sua história clínica ao Centro Internacional de Restauração Neurológica (CIREN), de Havana, e mediante uma campanha de recolha de fundos que incluiu doações e espectáculos artísticos, reuniu a quantidade necessária para a viagem.No dia 10 de Setembro do ano passado, o canal RTP N anunciou finalmente a saída de Vânia para Cuba. O diário 24 Horas, que seguiu de perto o caso, reproduziu no dia 17 de Outubro declarações da própria jovem a partir do CIREN, onde, após sessões diárias de reabilitação, reconheceu sentir-se muito feliz e ter conseguido progressos importantes. "Estou a tentar caminhar com a ajuda de barras de suporte que reforçam as minhas pernas. Também estou a fortalecer os meus braços".

A publicação Global Notícias informou do regresso de Vânia a Portugal, a 11 de Novembro passado, para submeter-se a novas operações que corrigirão sequelas do acidente.Os seus progressos foram bons e a reabilitação deu seus frutos. Dotada de próteses externas nas pernas, movimenta-se com a ajuda de um andarilho especial e umas barras de apoio. Com a voz mudada e sem poder dissimular seus desejos enormes de voltar à ilha do Caribe, para continuar o tratamento, afirma: "Ganhei força na perna esquerda e já consigo movimentar o pé. A mão esquerda se abre um pouco, tem mais força. A perna direita é a que está mais um pouco lenta. Mas conseguirei", sublinha.

"Devido ao nível de paralisia que tinha, os profissionais da saúde ficaram assombrados com minha evolução. Ninguém se imagina como me sinto. Não tenho palavras. Tentarei viajar para Cuba outras tantas vezes como possa, até que os médicos me digam que já não é possível evoluir mais.

"VANIA NÃO É A ÚNICA

O caso de Vânia não é o único que conhecemos através da imprensa. Diariamente, chegam-nos informações de Simão Ferreira, Catarina, Tiago Tavares e outros tantos.

Simão Ferreira, menino de 21 meses com irritabilidade cerebral, um raro caso de epilepsia conhecido como Síndrome de West, foi tratado durante três meses em Cuba. Em declarações ao Correio dá Manhã seus pais falam de um verdadeiro "milagre" e uma mudança "como da noite por dia". Antes, o menino chorava ininterruptamente durante 19 horas diárias, dormia pouco e rejeitava todos os alimentos. Agora dorme oito horas seguidas e não vomita.

Catarina, igualmente com paralisia cerebral, ao retorno de Cuba experimenta "melhorias visíveis", segundo sua família, e mostra-se mais disposta e animada, o que alimentou as esperanças da família de voltar e repetir o tratamento.

E Tiago Tavares, de 11 anos, também com paralisia cerebral, foi um caso muito seguido pela SIC. Dois anos depois, ao retorno de sua segunda viagem a Cuba, no dia 7 de Setembro de 2007, os espectadores estupefactos viram Tiago entrar caminhando no estudio de televisão, ajudado pela mãe.

Laura Tavares, mãe de Tiago, diz que os médicos cubanos são diferentes dos portugueses "quanto aos métodos e a formação". Os seus métodos de tratamento se baseiam "em uma fisioterapia intensiva e em bloco, em que cada músculo do corpo é exercitado, diariamente e durante todo o dia".

Num artigo publicado no dia 8 de Outubro no órgão regional O Setubalense, a jornalista Ana Maria Santos diz que "é cada vez maior o número de pacientes portugueses que buscam em Cuba a solução para seus problemas de saúde e se alguns não pedem a cura, pelo menos esperam obter uma melhoria na qualidade de vida que em Portugal não podem obter (…) e muitas dessas pessoas, portadoras de doenças consideradas sem cura, viajam ao país caribenho na busca de algum milagre e do qual algumas vezes retornam contando que o têm conseguido"."

É um caso para pensar que a nossa via de transformar a saúde numa actividade mercenária poderá estar a anos-luz de distância de uma qualidade pretendida, já que não seja a nível científico, pelo menos a nível humano. E muita humanidade falta na nossa democracia tão cumpridora dos direitos humanos. E eu que pensava que a saúde era um deles.

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