segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Má política. Desastrosa gestão de pessoas...

Sob um nevoeiro estranho que vai pairando no tecido empresarial português empresas do sector da distribuição preparam-se para atirar ao lixo uma quantidade significativa de postos de trabalho criados precariamente já com o intuito de serem facilmente descartáveis.

A crescente concorrência e a febre de abertura de novas lojas por quase todas as cadeias de retalho tem tido um misto de positivo, com a criação e movimentação interna de postos de trabalho, com o escandaloso negativo do desmantelamento de equipas de trabalho e com constituição forçada de equipas pouco preparadas e demasiadamente polivalentes.

Ao nível dos recursos humanos é cada vez mais evidente que a aposta destas empresas está na redução de custos a todos os níveis reduzindo a sua eficácia prática. O nível de conhecimentos, que é independente do nível de escolaridade, é cada vez menor e menos especializado neste tipo de estrutura empresarial. Os serviços externos e de apoio à estrutura são reduzidos ao mínimo e assistimos a situações em que será possível ter-mos no horizonte níveis de ineficácia extremamente elevados. Por outro lado é exigido cada vez mais a cada vez menos pessoas. A gestão das pessoas é feita por quem aprende a gerir números. O enquadramento e a integração das equipas de trabalho são feitos cada vez mais à força bruta dos orçamentos sem contar que as estruturas apenas podem ser competitivas sem mantiverem altos padrões de qualidade no serviço e uma elevada eficácia.

Hoje em dia o serviço é mesmo o factor diferenciador. A criatividade e a liberdade criativa são essenciais à manutenção de boas equipas bem estruturadas e sobretudo motivadas.

O neo-liberalismo à portuguesa está a atingir um patamar do absurdo. Estamos a criar mega-plataformas comerciais sem ter-mos estruturas produtivas. A dependência das importações cresce em certos sectores a um nível insustentável. A concorrência observada entre empresas que combatem por migalhas de margem ou praticam deliberadamente e constantemente dumping comercial é o que está a causar um estrangulamento dos ganhos efectivos não só destas empresas como da distribuição e importação que as fornecem. Com esse facto a mão-de-obra degrada-se e os valores de contratação tornam-se terceiro-mundistas.

Ao contrário do que as teorias ultra-liberais proclamam a concorrência não é factor de diminuição de preços mas antes de empobrecimento geral. Se cada vez existe um maior número de pessoas a trabalhar no sector terciário e se este cada vez paga pior aos seus profissionais a disponibilidade financeira de grande parcela populacional desce significativamente. Isso traduz-se numa forte redução do consumo. Esta redução torna-se numa mistura explosiva quando confrontada com o aumento exponencial de superfícies comerciais de média e grande dimensões. Mais explosiva quando, à diminuição dos salários no sector corresponde uma igual qualidade de serviço. Enfim, um ciclo vicioso já visto e revisto e, obviamente, falhado.

Quando nos disparam depois com ideias como a Flexigurança (será este o termo adoptado?) temos de ter em conta que Portugal está longe de ter uma realidade semelhante à Dinamarca, e que, com trabalhos deste género cada vez mais mal pagos e proletarizados é muito mais convidativo viver da assistência social do que estar a trabalhar. O mesmo estado desprezado pelo liberalismo mas que sustenta todos os projectos privados nos sectores fundamentais, como a saúde e a educação, o mesmo estado que alberga os políticos liberais e os catapulta para a vida depois da política nas cadeiras das administrações públicas ou privadas (se bons negócios foram produzidos em benefício das duas partes). Esse mesmo estado sustenta com essa ideia de Flexisegurança o menor risco dos privados em contratar e em despedir e desobriga-os completamente de pagar para depois terminar por ter de assistir e sustentar.

Se precarizar é desenvolver então o conceito de desenvolvimento, na óptica liberal, está pré-destinado a apenas uns quantos afortunados. Os outros que produzem, que criam, que manobram, que limpam, estão à margem e são para eles projectadas mensagens com a agressiva e criminosa linguagem de estímulo ao consumo e ao endividamento. Já vimos que é uma contradição que está a hipotecar esta geração dos quinhentos euros como hipotecou antes a dos seus pais da geração das pré-reformas cavaquistas. Esse senhor deveria ele mesmo ser pré-reformado por inutilidade da sua prestação no cargo que ocupa.

Aguarda-se a passagem do nevoeiro mas com o mesmo realismo de sempre não se espera um sol para todos…

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